Conhecendo o Leitor

Quero saber mais sobre você!

terça-feira, 22 de junho de 2010

Eu vi a morte

acidente 

Quando achamos que já aconteceu de tudo conosco, vem a vida e nos desvirgina mais uma vez. Tudo tem uma primeira vez. E quinta-feira passada foi a primeira vez que eu vi uma pessoa morrer.

Carlos Drummond de Andrade disse “Eta vida besta, meu Deus” em um de seus poemas. A morte também é besta. E também é tão simples, normal e garantido que chega a dar medo. Deve ser por isso que ela nos assusta e desnorteia tanto.

Na última quinta-feira, enquanto ia de carro para Guaíra/SP pensava em como aquela estrada era perigosa à noite. Depois da ponte do rio Pardo é impossível ver as linhas luminosas (ou melhor, refletivas) no chão com luz baixa por dois motivos: o primeiro é que a terra as tapa e o segundo é que em alguns trechos da pista a linhas laterais brancas simplesmente não existem.

Do nada, os carros que vinham no sentido contrário começaram a dar sinais de luz. Estranhei tanto sinal e pensei que pudesse ter polícia lá na frente. Porém, eu estava enganado. Havia um acidente que tinha acabado de acontecer e eu, quase em pânico, parei o carro. Não sou médico, mas talvez meus míseros conhecimentos farmacêuticos pudessem ajudar de alguma forma.

O carro bateu de frente com uma ambulância. Ele ficou muito amassado (foto, esta aí a prova) e quem começou a prestar os primeiro socorros para o motorista foi o pessoal da ambulância mesmo. Eles não tiveram ferimentos graves e até fizeram a sinalização para avisar aos outros carros do acidente.

Quando me aproximei, pude ver que o motor do carro ainda soltava fumaça e o motorista estava conversando, respondendo tudo o que lhe perguntavam. Depois de uns 15 minutos, ele simplesmente parou de falar. O SAMU chegou uns 3 minutos depois do silêncio do homem e não puderam ajudar muito porque ele estava preso nas ferragens.

Tentaram colocar oxigênio nele, mas não adiantou. Neste momento, a médica disse que ele não tinha mais pulsação. Abriu os olhos dele e disse “midríase”. Na faculdade, eu sempre confundia midríase com miose, “Qual é dilatação e qual é constrição da pupila?”. Depois deste fato, nunca mais vou confundir: midríase é a dilatação da pupila e quando alguém morre é uma das primeiras coisas a acontecerem.

Eu vi uma pessoa morrer e isso me atordoou. Eu não conseguia pensar em outra coisa. Morrer é uma coisa muito besta: em um momento se está aqui e no outro não se está mais.

Me recordo de alguém perguntar para o homem se ele queria que ligasse para alguém da família dele. Ele respondeu “Ainda não” e foi embora sem se despedir de ninguém. Se fosse eu, teria ligado só para ouvir a voz de alguém familiar pela última vez. Não contaria nada do que tinha acontecido. Mas mataria o tempo conversando com alguém querido, enquanto o tempo tratava de me matar.

Eduardo Franciskolwisk

Um comentário:

  1. É meu caro Eduardo, por nós, somente Deus! Aqui estamos com tantos planos e sonhos a serem realizados, mas... A vida é curta e cheia de surpresas! Nunca deixe uma boa conversa esperar a melhor hora, ela pode não chegar. Abraços.

    ResponderExcluir

Leitores, se forem comentar como anônimo por facilidade, peço que deixem pelo menos seus primeiros nomes como assinatura.

Mas se fizerem questão do anonimato, não tem problema!

TOP 10 do Mês

Arquivo do Blog