Conhecendo o Leitor

Quero saber mais sobre você!

segunda-feira, 25 de dezembro de 2017

Sobre Deus e o Papai Noel


Acho que sempre gostei mais do Papai Noel do que de Deus. Nunca tive medo do Papai Noel. Já quanto a Deus, sempre foi um ser que deveríamos temer.

Hoje, eu acredito mais em Papai Noel do que em Deus porque o Papai Noel está em nós, dentro da gente. E Deus está por aí, ninguém sabe muito bem onde…

Acreditar em Papai Noel é o mais próximo que cheguei de acreditar em Deus.

Eduardo Franciskolwisk

segunda-feira, 18 de dezembro de 2017

Mensagem para quem vai passar o Natal sozinho


Algumas datas tem um significado tão grande em nossas vidas que podem nos trazer felicidade ou tristeza. O Natal sempre significou uma época muito boa na minha vida. Final de ano, eu longe da escola, estudantes de férias tranquilos, crianças escolhendo presentes, a expectativa da chegada do Papai Noel, o réveillon uma semana depois e com ele a chance de um recomeço no novo ano que virá. Tudo isto sempre me trouxe paz. O Natal era um tempo em que eu me permitia relaxar e isto me fazia feliz. Eu até sentia o cheiro de Natal no ar.

Mas o tempo passa e as coisas mudam. Pessoas chegam, outras se vão. Crescemos e também mudamos. Percebemos o que antes não percebíamos. Todos os acontecimentos vividos influenciam a nossa maneira de pensar e sentir. O que antes era alegria, agora está mais para tristeza.

Há vários motivos para se passar o Natal sozinho. Tem aqueles que perderam toda a família, tem aqueles que moram longe dela, tem aqueles que nunca tiveram família. Alguns têm família bem perto, mas brigaram o ano inteiro e decidiram não se odiarem neste dia também. Outras não se viram nenhum dia do ano e acharam por bem permanecerem assim. Seja lá qual for o seu motivo, a mensagem que eu tenho a dizer é:

O Natal é uma época de alegria. Mas talvez, neste exato momento, você esteja triste por estar sozinho. É normal, dá mesmo um aperto no coração porque imaginamos como está sendo legal a comemoração de outras pessoas. Comparamos nossas vidas com as dos outros. Então, mesmo sendo difícil, queria que você lembrasse que está com a sua melhor companhia: você mesmo. 

Nesta data especial, comemore sozinho. Do seu jeito. Não há ninguém para te irritar, reclamar ou brigar com você. Faça o que quiser: coma sua comida predileta, compre um presente para você mesmo, veja filmes e ouça músicas de Natal (ou, se preferir, que não tenham nada a ver com o Natal). Faça as pazes com você. Sinta-se bem com sua própria companhia.

Se depois de tudo isso, ainda estiver se sentindo triste: lembre-se das pessoas que estão piores do que você. Compare-se a elas. Se você tem um emprego, lembre-se do que estão desempregados. Se você não tem um amor, lembre-se dos que têm e são cornos. Se você tem saúde, lembre-se dos que estão agonizando no hospital. Se quer um carro melhor para andar por aí, lembre-se daqueles que não têm pernas.

Seja justo: compare sua vida com a vida de quem está melhor que você, mas também a compare com a vida de quem está pior.

O Natal é um dia que tem a importância que nós damos a ele. Se você está lendo isto, é porque provavelmente dá uma importância grande ao Natal. E acho isso fantástico, continue.

Quero que você saiba que quando crescemos as coisas param de acontecer magicamente porque somos nós, agora, os responsáveis por fazer a magia acontecer. E tudo bem se neste ano você não estiver afim de magia nenhuma, como é o meu caso. Só não deixe esta magia morrer completamente.

O seu Natal sozinho vai ser legal se você acreditar que no futuro as pessoas e os acontecimentos serão melhores do que foram até agora. Mesmo que tudo indique o contrário, tenha a esperança de que a vida será melhor. Tente acreditar nisso pelo menos uma vez ao ano: na noite de Natal.

Eduardo Franciskolwisk

sexta-feira, 15 de dezembro de 2017

10 Dicas para emagrecer


Este blog não é de saúde, então, estas dicas não têm nenhuma validade científica. Antes de lerem, saibam que eu não sou uma pessoa saudável porque só como porcarias industrializadas e saborosas. No entanto, acho que estas 10 dicas são boas e podem funcionar. 

1) Não comprar para estocar
Nunca compre uma grande quantidade de um produto que engorda só para tê-lo disponível em casa quando tiver vontade de comer. Acredite: você sentirá vontade dele todos os dias. Então, em vez de comprar 10 pacotes de bolacha recheada, compre só 2 e tente fazê-los durar um tempão, comendo-os em pouca quantidade.

2) Anotar todas as calorias que comer
Separe um caderno para anotar as calorias que você comeu todos os dias, refeição por refeição. É bem chato fazer isso, mas funciona. Embora seja tentador, tente não trapacear comendo mais calorias do que você realmente anota.

3) Estabelecer quantas calorias pode comer por dia
Estabeleça a quantidade máxima de calorias que você pode comer por dia e tente nunca passar disso. Tente fazer um cardápio no qual você não coma muito, mas também não passe tanta fome. No meu caso, por exemplo, posso comer 1310 calorias por dia.

4) Comprar uma balança de cozinha
Se você não tiver uma balança de cozinha, compre uma no Mercado Livre. Ela é muito útil para você saber quanto de cada alimento estará ingerindo. Por exemplo, hoje você quer comer amendoim japonês. Em vez de pegar o saco e comer o quanto quiser, use a balança para pesar a quantidade exata da porção que quer ingerir. Não coma mais do que esta quantidade.

5) Escolher um mesmo horário e dia da semana para se pesar
Pese uma vez por semana no mesmo horário, de preferência de cueca ou calcinha e sutiã. Eu, por exemplo, me peso todos os sábados de manhã logo depois de acordar e der ter feito xixi.

6) Anotar seu peso
Anote seu peso semanal em um caderno ou planilha de Excel. Calcule se você engordou ou emagreceu em relação à semana anterior. Se engordou, reveja seus planos porque alguma coisa deu errado. Se emagreceu, parabéns, você ganhou o prêmio de comer o que quiser no final de semana!

7) Ter 1 ou 2 dias liberados para comer o que quiser
Como prêmio por ter emagrecido, tenha 1 ou 2 dias livres para comer o que quiser e na quantidade que quiser. Geralmente, é melhor que estes dias sejam os finais de semana. Só se lembre de não exagerar porque tudo o que você ganhar nestes dias, terá que perder nos dias seguintes. Ou seja, nestes dias de prêmios, coma o que quiser, mas com moderação.

8) Ter uma roupa como referência
Tenha uma calça, blusa ou vestido que cabe em você no seu peso ideal. Mesmo que você já não entre mais naquela roupa, não a jogue fora. Deixe-a guardada e à medida em que estiver emagrecendo, veja se já consegue caber ali dentro de novo.

Depois, use esta roupa no dia-a-dia. Se você continuar cabendo, está tudo certo. Se por acaso perceber que ela já está ficando apertada de novo, não espere engordar muito de novo, já comece a controlar o que come agora. 

9) Fazer outros comerem por você
Quando estiver comendo com alguém, tente fazer esta pessoa comer uma parte da sua comida ou beber parte do seu refrigerante ou suco. Ofereça o que estiver comendo por educação e também por interesses pessoais.

Se, em um dia do seu regime, uma pessoa estiver comendo algo e você ficar com vontade, peça uma mordida ou um gole. Mas fica só nisso, tudo bem? É só para matar sua vontade momentânea.

10) Não comer exageradamente
Deixei a dica mais óbvia para o final: Não coma demais! Eu sei que é difícil não comer uma barra de chocolate inteira sozinho ou ter que dividir aquela pizza com alguém, mas este é o caminho.

Eduardo Franciskolwisk

sexta-feira, 8 de dezembro de 2017

Teste - Usando minoxidil

Atualizado em: 21/02/2018

Para quem não sabe, estou ficando careca. A cada dia que passa tenho menos cabelo na cabeça. Até agora, isto nunca tinha me incomodado muito.

Sei que é bem difícil brigar com a genética e eu sempre dei esta batalha por perdida antes mesmo de começar a lutar. Nunca tinha feito nada para evitar ou parar a calvície. Porém, um dia, assisti a um vídeo meu e achei meu cabelo (ou minha careca) um pouco estranho, feio, esquisito.

Busquei na internet e achei sobre o minoxidil a 5% (ou 50 mg/ml). Não fui a nenhum médico nem nada. Eu mesmo me diagnostiquei e me mediquei. Um absurdo, diga-se por passagem. NÃO FAÇAM ISSO! Mas a verdade é que eu fiz. Comprei o medicamento, li a bula e comecei a passar 1 ml, 2 vezes ao dia.

Agora, estou à espera dos resultados e vou postar fotos da minha careca para que possamos ver juntos se tenho alguma evolução ou não. Em outras palavras, vocês vão me ajudar a analisar as fotos para saber se houve aumento de cabelo. As fotos serão publicadas uma vez por semana agora no começo, ou por mês, depois de um certo tempo. 

Vou tentar passar o medicamento por 6 meses. Caso tenha alguma melhora, eu continuo e fico feliz, no estilo Primo Itt da família Addams. Se não percebermos nenhum cabelo novo, aí eu paro de gastar meu dinheiro e declaro que o minoxidil é uma farsa e que não serve para nada além de me fazer de trouxa. As fotos estarão no final desta postagem.

Foto do Primo Itt,
da Família Addams

Mais informações sobre o minoxidil 5% (ou 50 mg/ml)

O que é?
O minoxidil é uma solução capilar a base de álcool.

Para que é indicado?
É indicado no tratamento de alopecia androgenética (calvície hereditária) em homens adultos.

Quando começa a fazer efeito?
No mínimo, em 2 meses, aplicando 1 ml,  2 vezes ao dia. Mas é bom saber que o tempo varia de pessoa para pessoa.

Como se usa o minoxidil?
Ele é para ser usado externamente. Ou seja, é para passar na careca e esperar o cabelo crescer. Este medicamento não pode ser usado por via oral, ou seja, não é para tomar ou beber pela boca.

Devemos aplicar 1 ml (ou 6 borrifadas, no caso do produto que eu comprei) na área afetada (leia-se: careca) quando o cabelo e o couro cabeludo estiverem perfeitamente secos. Depois disso, para o remédio fazer efeito é preciso esperar pelo menos 4 horas antes de lavar ou molhar a cabeça.

Modo de aplicação do minoxidil.

Depois de aplicar o medicamento é preciso massagear para estimular a área. O minoxidil é um medicamento vasodilatador e atua aumentando a irrigação de sangue na careca fazendo com que os fios tenham seu calibre aumentado e que demorem mais a cair, além de nascerem fios novos.

O que mais devo saber?
1) Se o minoxidil fizer efeito, será preciso usá-lo para sempre porque, se deixarmos de usar, o nascimento de cabelos novos será interrompido e também poderá acontecer um efeito reversível: você voltará a ter a mesma careca do início do tratamento dentro de 3 ou 4 meses.

2) Após aplicar o minoxidil e massagear com os dedos, é preciso lavar bem as mãos com água e sabão. Acho que deve ser por causa daquela história de nascer pelo na mão...


Veja agora as fotos e a evolução do tratamento


Primeira foto: antes de iniciar o tratamento com minoxidil
20/11/2017

Uma semana depois
26/11/2017

Duas semanas depois
03/12/2017

Três semanas depois
10/12/2017

Quatro semanas depois - 1 Mês
17/12/2017

Cinco semanas depois
25/12/2017
Observação: Nesta semana cortei o cabelo

Sete semanas depois
07/01/2018

Dez semanas depois - 2 meses
28/01/2018

Doze semanas depois
11/02/2018
Estou decepcionado com o resultado.
Não vejo nenhuma diferença.

Treze semanas depois - 3 Meses
18/02/2018
Última foto do teste.
Não vi nenhuma evolução.

O que estão achando da evolução?
Como está sendo o seu tratamento com minoxidil?
Deixem seus comentários!

Eduardo Franciskolwisk


Atualização Final
               
Desisti! 

Como vocês podem ver pelas fotos, comigo o minoxidil não funcionou. E na minha opinião, não funciona com ninguém!

No começo eu pensei em fazer o teste por 6 meses, mas fiz só por 3 meses porque achei que a minha careca continuou a mesma. Não nasceu nenhum cabelo.

Para todo mundo que perguntei "Você acha que está nascendo algum fio de cabelo na minha cabeça?", todos me disseram que não viam nenhuma diferença. Ou seja, o minoxidil não fez efeito.

Como é um produto caro, decidi parar o tratamento antes que eu gastasse mais dinheiro com uma coisa que não funcionaria nunca.

Acho que as fotos que vemos por aí de "antes e depois" do uso do minoxidil são puras mentiras. Caso contrário, o mundo não teria mais nenhum careca! Eu já desconfiava que não funcionaria, mas tive que testar em mim e pagar para ver. O resultado foi este que vocês viram na fotos. 


Perguntas e Repostas sobre o Minoxidil 
(que eu mesmo perguntei e eu mesmo respondi)

O minoxidil faz nascer cabelo?
Não. Em mim não fez.

Qual medicamento você utilizou nestes 3 meses?
Usei o Pant (50 mg/ml), do laboratório Aché.

Quanto custou cada unidade do Pant?
Eu paguei 66,00 no frasco com 50 ml.

Você se sentiu um idiota de ter tentado parecer com o Primo Itt?
Sim, mas já esperava que não fosse funcionar. Assumo que fiz papel de trouxa. 

O que você diria para outros carecas com esperança no minoxidil?
Não caiam nesta mentira. Você só vai perder tempo e dinheiro. As propagandas e vídeos da internet são mentiras. Com tanta gente falando que era verdade eu achei que pudesse funcionar e resolvi testar, mas foi frustante. 

Eduardo Franciskolwisk

sexta-feira, 1 de dezembro de 2017

A menina e o ogro

Este conto é dedicado à Isabela.

Muitos e muitos anos atrás, existia um ogro que vivia isolado numa cabana amedrontadora localizada dentro da Floresta dos Perdidos. O ogro tinha uma estatura bem alta, mais alta do que qualquer homem daquela região e sua aparência não era nada amigável. Ele era assustador.

Todos os ogros gostavam de comer carne humana, mas esse não. Por algum motivo, carne humana era um prato que não lhe caía muito bem. Humanos lhe davam náuseas. Então, ele costumeiramente se alimentava de pequenos animais que caçava e de frutas que colhia fresquinhas diretamente das árvores. Fazia muito tempo que o ogro tinha se isolado na Floresta dos Perdidos e desde então ele nunca mais vira um humano.

A Floresta dos Perdidos não tinha este nome por acaso. Lá moravam as mais maléficas e poderosas bruxas, gnomos e duendes violentos, elfos sem índole, fadas más, almas penadas, fantasmas e até mesmo o Senhor das Trevas. Todos eles com um coração tão podre que nunca mais conseguiriam ter um coração bom. Eram seres que haviam feito muita maldade aos outros porque pensavam só em benefícios para si mesmos. Eram casos irremediáveis, ou seja, eram casos perdidos. Daí veio o nome: Floresta dos Perdidos.

Porém, nesta floresta também viviam seres que faziam tanta maldade para si que qualquer um que visse seu coração negro poderia jurar que eram casos perdidos. Estes seres também eram maus com os outros, mas nada se comparava com a maldade que faziam consigo. Estas criaturas escolhiam viver na Floresta dos Perdidos por se julgarem indignas e por pensarem que não tinham mais salvação. Isolavam-se por se desprezarem, por acharem que suas vidas já não valiam mais nada. Consideravam que tudo existente no mundo seria incapaz de encher de alegria seus vazios corações. Era assim com o ogro.

Todo mundo tinha medo da Floresta dos Perdidos. Mesmo corações bons que entrassem lá, corriam o risco de se perderem. As pessoas se arrepiavam só de ouvir falar naquele lugar. Então, era raro alguém que ousasse entrar lá. E mais raro ainda quem conseguisse sair.

Ouvindo um barulho incomum, o ogro saiu da sua trilha de caça e seguiu os rastros do som. Após alguns minutos, ele avistou uma menina e mantendo distância, perguntou:

— Por que você está chorando, menina?

— Porque estou perdida e preciso de ajuda - respondeu ela se assustando ao perceber que se tratava de um ogro.

— Não se assuste, não vou lhe fazer mal. Ouvi um grunhido e achei que fosse uma caça diferente. Para sua sorte, não como humanos. Para seu azar, humanos me dão náuseas, não chego nem perto de um. Sendo assim, não posso ajudar. Vou seguir o meu caminho e você siga o seu.

Após virar as costa e caminhar alguns passos, voltou-se e disse:

— Ah… Tome muito cuidado com a maldade dos seres desta floresta, se você conseguir sair daqui nunca mais volte. - e prosseguiu até a sua cabana sem olhar nenhuma vez para trás.

Aterrorizada pela possibilidade de voltar a ficar sozinha naquela floresta, a menina seguiu o ogro. Ela teve de andar depressa para acompanhar os compridos passos que ele dava. Alguns minutos depois, ainda com lágrimas nos olhos, viu que ele entrou em uma casinha simples de madeira e palha. Sem pensar duas vezes, a menina foi até a cabana do ogro e bateu na porta: toc, toc.

— Vá embora, menina! Não gosto de visitas. - gritou o ogro lá de dentro.

— Por favor, senhor Ogro, me ajude. - implorou a menina. Não sei como voltar para casa. Eu estou perdida…

— Então, está no lugar certo! Você está na Floresta dos Perdidos! - bradou o ogro interrompendo a menina.

Ela voltou a bater na porta. Desta vez com um pouquinho mais de força e desespero: toc, toc, toc.

Neste momento, ele abriu a porta com raiva e foi para cima da garota, abaixou seu rosto nivelando-o ao dela e olhando diretamente em seus olhos disse:

— Menina, vá embora!

Acuada, pela primeira vez ela sentiu medo do ogro e percebeu que ele não a ajudaria. Ficou triste e desesperançosa. Sentiu um nó na garganta e seus olhos expressaram o que sua alma sentia: a morte.

O ogro percebeu uma mudança no olhar da menina. Por um breve momento seu grande e pesado corpo captou o que ela estava sentindo. A alma dela estava morrendo. Ele também já se sentira assim antes. É sempre assim: a alma morre antes do corpo. O ogro era capaz de muitas maldades, mas matar uma alma era demais para ele.  

Então, ele pegou seu sobretudo e seu arco e flecha e disse:

— Levarei você até a saída. Estranhamente seu cheiro ainda não me deu enjoo. Além disso, vou ter menos dor de cabeça sem você batendo à minha porta.

O olhar da menina sorriu e ela disse “Obrigada!”, abraçando impulsivamente o ogro. Devido a diferença de estaturas o abraço dela pegou em sua cintura. Ele, com sua mão a afastou dizendo:

— É melhor não chegar muito perto. Seu cheiro pode me fazer mal. Além disso, meu cheiro vai impregnar em suas roupas e sua mãe vai brigar com você. É um cheiro desagradável e difícil de sair.

— Eu não tenho mãe. Minha mãe morreu quando eu era bem pequena. Nem me lembro dela. Mas minha madrasta, sim, vai ficar brava quando eu chegar em casa cheirando à ogro. Ela não é boa comigo.

— Por que não? - quis saber o ogro.

— Ela não faz muitas coisas boas para mim. Na verdade, só me lembro de uma coisa boa: o passeio de hoje na floresta. Eu nunca tinha saído para passear antes. Mas hoje viemos fazer um piquenique. Seria um dia muito feliz para mim se nós não tivéssemos nos perdido umas das outras. Pela primeira vez, teríamos comida de sobra...

— Muito estranho! - interrompeu o ogro. - Ninguém passeia nesta Floresta. Nada de bom acontece aqui. Nunca ouvi risadas por estas bandas. O primeiro sorriso que vi aqui foi o seu. Acho que você é a única coisa boa nesta floresta. Por isto, estou te levando para sua casa. E você só poderá sair daqui porque tem um coração bom. Corações perdidos não saem desta floresta.

Caminharam em silêncio por um bom tempo. A menina estava pensativa. Então, o ogro ouviu um barulho alto e olhou para os lados em alerta tentando identificar o que havia acontecido, mas logo foi acalmado pela menina:

— Calma! Foi só a minha barriga. Faz alguns dias que não como nada…

O ogro colocou a mão dentro da bolsa que carregava e tirou uma fruta. Deu para ela e disse:

— Coma esta fruta. Se eu soubesse que você estava com fome talvez tivesse lhe oferecido um pouco da minha sopa de esquilo. Mas isto agora não tem muita importância, chegamos na entrada da floresta e você pode sair. Vá, vá para casa. Nunca mais volte aqui.

A menina já conseguia avistar sua casa daquele ponto e feliz começou a correr em direção a ela. No meio do caminho, lembrou-se de agradecer ao ogro, mas quando olhou para trás, ele já havia desaparecido no meio das árvores.

Ela entrou em seu casebre gritando de felicidade:

— Voltei! Eu voltei.

A casa estava silenciosa. Pensou que não havia mais ninguém. Porém, logo avistou a meia-irmã, mais nova que ela, dormindo na cama. Aproximou-se e deu-lhe uns chacoalhões suaves para acorda-lá.

— Você está viva! - gritou surpresa a meia-irmã ao despertar. - Que alegria! Nunca mais vou fazer isto.

— Fazer o quê? - quis saber a menina.

Chorando a meia-irmã começou a contar:

— Minha mãe, sua madrasta, não gosta de você! Ela aproveitou que nosso pai fica meses trabalhando longe de casa e quis que você sumisse na Floresta dos Perdidos. Então, ela bolou um plano. Ela me disse “Filha, vamos levar sua meia-irmã para dentro da floresta, o mais longe que conseguirmos. Vamos abandoná-la e voltaremos para casa juntas. O dinheiro e a comida estão poucos, se não fizermos isto, não sobreviveremos. Ninguém sentirá falta dela.” Eu concordei, mas me arrependi rapidamente. Quando colocamos o primeiro pé floresta adentro, eu já tinha entendido que não era verdade que ninguém sentiria sua falta. Você faria muita falta para mim. Um enorme buraco se abriria no meu coração. Então, falei para minha mãe que eu não queria mais te abandonar na floresta. Quando eu ia pegar na sua mão para voltarmos juntas para casa, ela me olhou com desprezo e disse “Sua imprestável, não serve para nada mesmo. Gosta dela? Pois então, espero que se perca aqui como ela.” Então, ela me empurrou com tanta força que eu caí e bati a cabeça, acho que foi numa árvore. Fiquei desacordada. Quando recobrei os sentidos, ela já tinha te levado para dentro da floresta e, por eu estar próxima à entrada da floresta, consegui achar o caminho de volta.

Ainda chorando ela continuou:

— Você conseguiu sair de lá. Seu coração é bom. Mas a mamãe, eu não acho que consiga. Ela se perdeu. A floresta não a deixará sair.

Anoiteceu. Elas se abraçaram e dormiram assim, se sentido seguras uma com a outra.

No outro dia, quando acordaram, viram uma mesa com vários tipos de frutas e um ensopado de esquilo. Não era muito, mas era o suficiente para que as irmãs não passassem fome naquele dia.

A meia-irmã, logo que viu a mesa, chamou em voz alta:

— Mamãe, você voltou?

Ninguém respondeu. Então, ela chamou:

— Papai? Você está aí? Você chegou de viagem?

Novamente, ninguém respondeu.

A menina logo percebeu que quem havia trazido aquela comida para elas só poderia ter sido o ogro. Porém, naquele momento isto não importava muito. A fome chamava mais atenção. Por isso, as duas se sentaram à mesa e saborearam aquela pouca fartura nunca antes vista naquela casa.

Durante o dia, enquanto a meia-irmã caçula brincava sozinha do lado de fora da casa, a menina entrou novamente na Floresta dos Perdidos e foi até a cabana do ogro, queria agradecer. Porém, ela não sabia o caminho, então, se perdeu.

— Não falei para você nunca mais voltar aqui? - perguntou o ogro. - Por que entrou novamente na Floresta dos Perdidos?

— Eu precisava te ver. Você foi bondoso comigo. Queria te agradecer por ter me ajudado a sair desta floresta e por ter levado aquela comida até a minha casa. Minha irmã ficou muito feliz. E eu também. Obrigada! - ela se aproximou do ogro e mais uma vez o abraçou.

— Do que você está falando, menina? Eu não levei nada para sua casa. Não posso sair da Floresta dos Perdidos.

— Quer brincar? - perguntou a menina sem se importar com a resposta dada pelo ogro.

— Ogros não brincam.

— Claro que brincam, quer ver? Venha me procurar!

A menina adentrou ainda mais a floresta se escondendo do ogro. Ele sempre a encontrava. Foi assim o dia inteiro. E no dia seguinte também. E no outro. Todos os dias, ao amanhecer, a mesa da casa dela tinha comida o suficiente para ela e a meia-irmã comerem o dia inteiro. E todos os dias a menina entrava na floresta e procurava o ogro para brincar. Ele sempre a levava até a saída da floresta. Após meses, de tanto se divertir pela floresta, ela já não precisava mais do ogro para sair. Ela já conhecia a floresta como a palma da sua mão. Ia e voltava da casa do ogro sem a ajuda de ninguém.

Um dia o ogro perguntou:

— Por que você vem aqui todos os dias?

E ela respondeu:

— Porque você é meu amigo. E eu nunca tive um amigo.

— Eu também nunca tive uma amiga.

 — Agora nós dois temos um ao outro. Somos amigos. Como eu gosto de você, virei aqui todos os dias para brincar. Pode me esperar!

Assim ela fez. Por alguns anos, todos os dias ele esperava pela menina. E ela sempre vinha. Até que um dia ela não veio. E aquilo doeu no coração dele. O dia demorou para passar. Mas no dia seguinte ela apareceu e ele perguntou:

— Por que você não veio ontem?

— Não vim porque não estava bem. Estava me sentindo estranha, confusa. Não sei explicar. O céu amanheceu vermelho para mim. No lugar de azul, estava vermelho. E por isso, não consegui sair de casa. Algo me prendia. Mas hoje estou melhor. Estou boa para brincar de novo.

E eles brincaram como antes. Depois deste dia, de tempos em tempos, a menina o deixava esperando. No outro dia, a resposta era sempre a mesma:

— O céu amanheceu vermelho.

O ogro nunca entendia aquela resposta. Ele nunca tinha visto o céu amanhecer daquela cor.

Com o passar do tempo a menina foi começando a perder o interesse no ogro. Suas brincadeiras com ele já não lhe interessavam. Para todas as brincadeiras que ele inventava, ela dizia “não”.

Um dia, a menina foi até a cabana do ogro e disse:

— Não gosto mais de brincar com você. Na verdade eu nem gosto mais de você. Eu quero que você engasgue com esse osso e morra.

Ela foi embora e não voltou mais. Ele a esperava todos os dias, mas ela nunca aparecia. Então, ele ficou angustiado. Chegou mesmo a pensar em se engasgar com um osso e morrer de propósito.

Meses depois, a menina reapareceu chorando:

— Hoje ficamos sabendo que nosso pai morreu. Ele nunca mais voltará para casa. Agora estamos órfãs, não temos mais ninguém. Pensando bem, sempre estivemos sozinhas. Será que algum dia teremos alguém para cuidar da gente e nos guiar até a vida adulta?

— Eu cuidarei de vocês. 

— Como você cuidará de nós? Nem sequer pode sair da Floresta dos Perdidos. Desde que minha madrasta se perdeu ficamos sozinhas. Tínhamos comida o suficiente, mas não havia ninguém para nos ajudar a crescer e enfrentar o mundo. Precisamos de alguém para nos orientar.

— Calma, menina! Estarei aqui para vocês quando os dias amanhecerem azuis, vermelhos ou cinzentos. Somos amigos.

— Chegou um momento em que ter um amigo já não basta mais. Por isso, parei de te visitar na Floresta dos Perdidos. A floresta passou a me influenciar. Comecei a me sentir deslocada, perdida. Desde então, venho pensando seriamente em uma coisa.

— Em quê?

— Você.... - ela ficou sem jeito de perguntar, estava receosa. - Você quer ser nosso tutor?

— Acho que não. Não posso sair da floresta...

— Claro que pode. Você leva comida para nós todos os dias. Acha que não sei que é você? Quem mais seria? Apesar de insistir que não pode sair da floresta, sei que pode. É você quem cuida da gente. Sempre cuidou de mim desde o dia em que te conheci.

— Sou um caso perdido! Não tenho solução.

— Você deixou de ser um caso perdido a partir do momento em que me ajudou a sair da floresta naquele dia. Por isso você consegue sair da floresta: não é mais um caso perdido!

— Ainda me sinto como se fosse...

— Todos nós nos sentimos perdidos em algum momento de nossas vidas. O que precisamos fazer é encontrar pessoas nas quais podemos nos apoiar. Ajudar e ser ajudado. Estou perdida agora. Não sei qual é o próximo passo a dar. Preciso de você e acho que você também precisa de mim. Precisamos um do outro.

— Não posso protegê-la dos males do mundo.

 — Não é verdade. Você me protegeu todos os dias de todas as criaturas malignas que habitam esta floresta. Nunca encontrei nada que me fizesse mal. E foi você! Foi você que me defendeu de tudo. Sem a sua proteção, eu não viveria um dia sequer.

Percebendo que ela estava certa, o ogro aceitou o convite e tornou-se o tutor da menina e de sua meia-irmã. Assim que ele saiu da floresta de mãos dadas com a menina, algo mágico aconteceu diante dos olhos da garota. O ogro, que era grande, feio e assustador, transformou-se em um homem de estatura normal e de boa aparência. 

Não era a primeira vez que aquilo acontecia. Todas as vezes nas quais ele saía para levar comida paras as meninas, ele se transformava naquele homem. Por este motivo, após anos visitando o vilarejo, ninguém nunca fez alarde. Nunca viram um perigoso ogro rondando suas casas. Aos olhos dos outros ele era normal, um homem como outro qualquer.

A transformação mágica acontecia porque fora da Floresta dos Perdidos, o ogro tomava sua forma real, do ser humano que sempre foi. Quando ele entrava na Floresta, ele se transformava no monstro que acreditava ser: um ogro. 

Um dia, a menina sentada ao lado da meia-irmã perguntou ao ogro:

— Você não sente mais náuseas ao se aproximar de seres humanos?

E ele respondeu:

— Ainda sinto, mas hoje em dia, é bem raro que isso aconteça. Após conhecer melhor vocês duas, algo em mim mudou. Acho que antes, eu conhecia os seres humanos errados. Os que eu conhecia, realmente, me davam enjoos. Ainda dão quando me lembro deles. Mas agora, que conheço os seres humanos certos, meu coração se enche de alegria e felicidade quando eles chegam perto de mim.

Com o coração vazio preenchido de coisas boas, o homem se sentiu feliz. Já não era mais um ogro. Ao abraçá-lo mais uma vez, a menina também se sentiu feliz. Já não era mais uma órfã, agora tinha alguém para apoiá-la enquanto crescia.   

A Floresta dos Perdidos continuava bem ali perto de onde moravam. No entanto, já não se sentiam perdidos porque, tempos atrás, eles tinham se encontrado.

Eduardo Franciskolwisk

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