Por que uma galinha atravessa a rua? Com certeza, todos sabem que é “para chegar ao outro lado”. Mas por que um mandruvá atravessa a rua?
Mandruvinha era o apelido do filho mais velho do casal mais famoso daquela cidade. O casal de mandruvás já não existia mais. Ninguém sabe o que lhes aconteceu. Aliás, nunca se soube do que acontece com os mandruvás numa certa idade. Eles, simplesmente, desaparecem!
Mas a memória é feita para ocasiões como estas. A memória é feita para resgatar o passado; tornado-o, de novo, presente; para que seja mais fácil enfrentar o futuro. A cabeça desse mandruvá não era muito diferente da nossa. Ele também tinha recordações.
Momentos antes de atravessar a rua, Mandruvinha se lembrava do que seu pai dizia:
– Mandruva Filho, preste atenção no que eu digo. Um dia você vai ter de escolher entre o fácil e o difícil. Escolha o difícil porque a longo prazo é o caminho mais fácil. Se você escolher o fácil, lembre-se de que, com o passar do tempo, o caminho ficará mais difícil. A decisão é sua, mas... Arrisque-se!
Acordando de seus pensamentos, olhou a rua. Muitos carros passando, muitas buzinas fazendo barulho. Às vezes, aparecia uma ou outra bicicleta e mais raramente, uma carroça. E olhando todo aquele movimento, novamente mergulhava em seus pensamentos.
– Mandruva Filho, ouça o que eu digo. Um dia você vai ter de fazer o que é certo ou o que é errado. Faça o que é certo porque, simplesmente, é o correto a ser feito. Se você fizer o que é errado, não tem problema, mas só faça isso se você achar que é o correto a ser feito. De vez em quando, é bom nadar contra a correnteza. A decisão é sua, mas... Arrisque-se!
Realmente passavam muitos carros ali.
– É praticamente impossível para um mandruvá como eu atravessar a rua com todos esses carros passando – pensava ele.
Mas era só prestar atenção nas dificuldades que estavam diante dele que Mandruvinha se recordava das palavras do pai.
– Mandruva Filho, escute-me. Um dia a sua vida vai estacionar ou vai andar de marcha a ré. Se estacionar, você não estará em desvantagem. Porém, também não estará em vantagem. Se estiver andando para trás, será necessário que você tome providências. Em todos os casos, a decisão é sua, mas siga o conselho deste velho aqui: Arrisque-se!
– Este lado da rua – dizia Mandruvinha para si mesmo – já não me deixa feliz! Quero muito conhecer o outro lado. Lá pode ser muito melhor que aqui... Mas também pode não ser...
O pequeno mandruvá olhou para a extensa rua a qual queria atravessar. Olhou os inúmeros carros que passavam; as motos e as bicicletas. Sentiu um friozinho na barriga, mas mesmo assim decidiu “Arriscar-se” como lhe pedia o seu pai.
Quando estava quase chegando ao outro lado da rua, uma bicicleta veio em alta velocidade para cima de Mandruvinha. Ele não pôde fazer nada! A bicicleta podia e desviou dele.
Hoje, ele é um outro mandruvá. O outro lado da rua fez muito bem para ele. Casou-se e teve uns pares de filhos que já estão crescidos. Ele já está naquela idade especial para um mandruvá. Aquela idade em que eles, simplesmente, desaparecem.
Por que um mandruvá atravessa a rua? Para chegar ao outro lado. Aqueles que não se arriscam nunca se dão mal, muito menos se dão bem. É assim que funciona. Arrisque-se!
Eduardo Francisskolwisk
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