Numa das minhas viagens pelo mundo conheci uma cidadezinha no interior do estado São Paulo, no Brasil. Fiquei impressionado com tamanho tão pequeno da cidade e tamanho tão grande da perfeição que a cidadezinha era. Nos primeiros minutos de estada na cidade cheguei a pensar que não me encontrava no planeta Terra.
Meu guia, Nestor, era a pessoa quem iria me mostrar a cidadezinha e tentar responder às minhas perguntas. A educação das pessoas era enorme. Ao pisar em Ano Gelozia recebi o “Seja bem-vindo” de uma forma diferente das outras cidades. Além da placa desejando as boas-vindas havia um morador que ficava lá, na entrada, justamente para cumprimentar pessoalmente o visitante. Claro que esse morador não ficava lá todos os dias, os moradores revezavam e a cada dia, lá estava um morador diferente.
– Nossa, mas desde a entrada até aqui, no hotel, não vi nenhum pedaço de papel ou outras sujeiras, quaisquer que fossem, no chão! – comentei com Nestor.
– É que não é da nossa laia jogar os papéis no chão sendo que podemos jogá-los no lixo que existe nas esquinas ou no lixo de casa – falou Nestor.
– A multa é absurdamente cara? – perguntei.
– Que nada! Aqui em Ano Gelozia não existem multas. Aqui não é necessário.
Nesse momento percebi que tudo ali era muito diferente do mundo lá fora, as pessoas ali eram diferentes das do mundo lá fora. E foi por isso que eu tive vontade de conhecer o prefeito da cidade:
– Nestor, eu gostaria de conhecer o prefeito de Ano Gelozia. Você poderia me levar até ele?
– Claro que posso. De tardezinha eu levo você no lugar onde ele está. Combinado?
– Combinado – falei eu.
Deixei minhas coisas no hotel e fomos até a Praça da Fonte Limpa. Como o próprio nome já diz, a fonte da praça era limpa e, o que o nome já não fala, protegida. Era tão protegida que nem as árvores que ficavam perto da fonte se atreviam a jogar suas folhas dentro dela. Porém, as árvores podiam jogar suas folhas no chão, desde que o vento as carregasse para outros lugares fora da cidade. Era isso o que o vento sempre fazia.
– Que perigo! – falei apontando para algumas crianças e perguntei – Por que as crianças estão brincando na rua? Não sabem que é perigoso? Algum carro pode atropelá-las.
– Fique calmo, viajante. As crianças estão brincando na rua porque se brincarem na calçada podem atrapalhar os adultos que estiverem passando.
– É perigoso! Algum carro pode passar por cima delas.
– Isso é impossível, aqui na cidade não tem carros. A cidade é pequena e ninguém precisa deles, usamos o famoso “andar pra frente”. Os carros ficam no mesmo lugar onde você deixou o seu. De lá para cá nenhum pode passar.
A cada hora que passava a minha admiração por Ano Gelozia crescia. Eu estava ansioso para conhecer o prefeito, mas ainda tínhamos algumas horas até o final da tarde.
Com certeza, em Ano Gelozia tinha muita coisa para se conhecer e ficar de queixo no chão, mas segundo Nestor a lanchonete da cidade seria o último lugar que eu conheceria antes de ver o prefeito.
No caminho perguntei:
– Onde estão os policiais? - e ele me respondeu:
– Estão ali, no meio dos moradores, sem farda e sem pose de gostosão – e me explicou – Nunca houve nenhum caso de polícia durante toda a história de Ano Gelozia, mas os policiais são muito bem treinados.
Então eu disse:
– Esta cidade é praticamente perfeita, imagino que o prefeito também seja perfeito. Estou muito ansioso para conhecê-lo.
– Sim, o nosso prefeito é perfeito, o mais perfeito de todos – contou-me Nestor.
Assim, chegamos na lanchonete.
– Oba! Temos visitante no pedaço! – vibraram duas senhoras.
Essas mesmas duas senhoras me serviram coisas deliciosas, me contaram inúmeras histórias de Ano Gelozia com um papo muito agradável, e, além de tudo, não me cobraram nada por eu ser um simples visitante. Ano Gelozia era uma cidade maravilhosa, uma cidade da qual as outras, todas as outras, têm ciúmes, essa é palavra certa, e não inveja.
Saímos da lanchonete depois de eu ter agradecido milhares de vezes, o mesmo número de vezes que elas disseram para que eu voltasse sempre, e fomos para o lugar onde vivia o prefeito perfeito.
Ao chegarmos, estranhei, mas não entendi, até que Nestor me disse:
– Este cemitério é onde mora o prefeito perfeito.
Entramos. E já em frente à lápide do prefeito eu li em voz alta:
– Aqui jaz o Prefeito Perfeito, que nunca nasceu e nunca morreu e, por isso, nunca governou e nem nunca roubou, fazendo assim a felicidade do povo de Ano Gelozia.
Eduardo Franciskolwisk
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