– Querido diário, meu dia hoje não foi dos melhores. Acordei com o telefone tocando. Era a moça do hospital dizendo que meus pais tinham marcado um exame para mim hoje. Sabe aqueles exames de rotina que sempre o pessoal daqui de casa faz? Lembrou?
– Lembrei, sim. E o que mais? Agora eu estou curioso, conta logo!
– Então, hoje, às 6:30 da noite o médico ligou aqui e quis falar com o meu pai. Depois que ele desligou o telefone, me chamou desesperado e fomos correndo para o mesmo hospital onde tinham sido feitos os exames.
– Virgem Santa Maria! O médico falou que você tinha o quê?
– O médico não queria falar nada na minha frente sobre o meu caso e por isso convidou meu pai, só meu pai, para que fossem conversar em particular na sua sala.
– Demoraram?
– Eles ficaram lá por muito tempo e, quando saíram, eu vi que meu pai tinha chorado. Então, eu perguntei o que eu tinha.
– E o que você tem?
– Mas eles não me responderam. Só me disseram para entrar na sala onde estavam e ficar lá esperando uns “segundinhos” em companhia de uma das enfermeiras.
– Nossa! Mas o seu pai não ficou lá com você?
– Depois, fiquei sabendo que meu pai tinha ido telefonar para minha mãe e que ela já estava vindo para o hospital.
– E a que horas alguém contou para você o que estava acontecendo?
– Por mais que eu insistisse para a enfermeira me dizer o que eu tinha, ela não dizia. Quando o médico voltou, eu de cara perguntei “O que eu tenho?” e ele, enrolando e dizendo um monte de besteiras que eu nem lembro mais e por isso eu vou resumir aqui, respondeu: “Você está com câncer e esse câncer não tem cura porque é maligno. Infelizmente você só tem poucos meses de vida.”
– Meu Deus! Você ficou triste?
– Na hora eu não senti nada, parecia que a coisa não era comigo. Nem estava tão desesperado como estava antes de saber da notícia. Mas, sei lá, eu acho que fiquei um pouco triste.
– Não fique triste!
– Saber que eu vou morrer me fez ficar um pouco triste! Claro, eu sempre soube que um dia iria morrer, mas antes eu tinha a impressão de que viveria eternamente. Ou, peraí, eu tenho 16 anos e a morte era para estar bem longe de mim! Porém, como não está, vou ocupar meu tempo fazendo só coisas das quais gosto.
– Agora que você sabe que vai morrer, você vai parar de escrever em mim?
– Quando se tem uma doença grave como a minha e se está com os dias contados, uma hora escrevendo em um diário ou escrevendo um conto pode me fazer muita falta!
– É verdade... eu te entendo! Uma hora é muita perda de tempo, né?
– Mas se nessa uma hora eu estiver escrevendo, eu não me importo de perdê-la, pois posso escrever coisas que me façam ficar vivo pelo resto de toda a eternidade!
Eduardo Franciskolwisk
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