- Não acredito! Rosana, é você mesma?
- Ai, meu Deus! Júlio! Que surpresa!
- Minha nossa, mulher! Há quanto tempo a gente não se via?
- É verdade... Acho que desde que terminamos o colégio... Venha cá, me dê um abraço.
- Um abraço e um beijo, afinal estamos falando de tempo à beça!
- O que você me conta, Rosana? Fez faculdade?
- Fiz! E olha que já faz um tempão que eu estou formada. Sou veterinária.
- É mesmo... Eu tinha me esquecido que você adora animais. Estou me lembrando agora dos dias que você ia lá em casa e não desgrudava do cachorro e do gato.
- Pois é, agora eu sou a médica deles! Mas, e você? Formou?
- Formei! Suando, mas me formei.
- Em física?
- Sim, em física!
- Era o que você queria, não era?
- Era! Também não tinha nem como vocês se esquecerem, eu não parava de falar na dita cuja, e ainda ajudava todo mundo quando precisava! Você principalmente, Rosana.
- Nem me fale em física, tenho pavor!
- Não exagere! O que importa é que a cada um de nós fez da vida o que quis e estamos felizes por isso!
- É o nosso Júlio! Sempre filosofando.
- O que mais você fez da vida nesse tempo todo? Casou?
- Casei nada! E você?
- Nem eu. Mas e aquele seu namorado de anos e anos?
- Não agüentei... Meu namoro era de anos e anos sendo chifrada, sendo humilhada pelas costas por aquele babaca!
- Então, que dizer que você descobriu?
- Você sabia?
- Todo mundo sabia, só você que não!
- Porque não me disseram?
- Depois de todas as indiretas que a nossa turma inteira deu em você achamos que não você não queria acreditar!
- Mas eu não me lembro de nenhuma indireta, Júlio.
- Rosana, Rosana! Nós tentamos te avisar bem antes!
- Não me lembro mesmo! Mas, e você, Júlio, porque não se casou?
- Ah, não! Levei o pé na bunda de todas elas!
- Inclusive aquela que você tava namorando no nosso último ano de colégio?
- Aquela foi a pior! Foi ela quem deu origem ao que hoje chamo de “efeito dominó”.
- Por que?
- Foi só ela resolver chutar o meu traseiro me trocando por outro cara que todas as outras que vieram em seguida fizeram o mesmo!
- Nossa, Júlio, que azar!
- Azar? Bota azar nisso! Mas felizmente eu não sou o único, não é mesmo?
- É verdade... Eu também não tenho muita sorte nesse negócio!
- Rosana, Rosana, o jeito é rir das nossas tragédias!
- Rir para não chorar, mas chorar para que o nosso riso, depois, tenha algum valor!
- Ei! O filósofo aqui sou eu!
- Mas eu também sou de filosofar! Ou você não se lembra que filosofávamos juntos?
- Não tinha nada disso não, Rosana! Eu era o único filósofo que tinha na turma!
- Que isso, Júlio? Não se lembra de uma coisa dessas? Assim eu fico triste, eu até hoje conto para todo mundo na rua das filosofias que fazíamos juntos.
- Estranho... Não me lembro, de verdade.
- Isso é normal! Depois que a gente cresce a gente se esquece das coisas importantes do passado.
- A senhora já está filosofando de novo, pára com isso! O filósofo aqui sou eu!
- Ops, desculpa, não consigo evitar! Mas que fique bem claro que aqui eu também sou filósofa!
- Está bem... Não precisa ficar tão brava assim!
- Não vou mais ficar brava!
- Assim que eu gosto! Rosana, já falamos de faculdade, de casamento, que por sinal não é o nosso forte, e sobre as minhas, quero dizer, as nossas filosofias. E agora, sobre o que vamos falar?
- É tanto tempo sem a gente se ver que quando chega a hora a gente esquece de tudo!
- Você tem razão, assunto é o que não falta, o duro é lembrar deles na hora da emoção!
- Júlio, acabei de me lembrar do seu pai, como ele está?
- Meu pai, Rosana? Meu pai morreu quando eu tinha cinco anos e você sabe muito bem disso!
- Isso é impossível, Júlio. Ele sempre levava a gente nos lugares que a gente queria ir para se divertir. Você está gozando da minha cara, seu safado?
- Não, não estou.
- Ué?
- Tem alguma coisa errada aqui!
- Também acho!
- O seu nome é Rosana Campos?
- Não, Júlio! O meu nome é Rosana de Salles. O seu é Júlio Burinato?
- Não! O meu nome é Júlio Fredo.
- Que confusão que nós aprontamos!
- Confusão causada por inúmeras coincidências.
- Bom, se você não é o meu amigo, acho melhor eu ir andando! Desculpe a confusão!
- Que isso? Eu também me confundi todo!
- Tchau, Júlio. Foi um prazer!
- Tchau... Ei! Espere, já que fizemos toda essa confusão e tanto você como eu não temos sorte com o amor, quem sabe tantas coincidências tenham não acontecido por mera coincidência?
- É verdade... Quem sabe...?
- Me dá seu telefone para que a gente possa sair algum dia?
- Claro, pegue a minha caneta e anote aí na sua lista de compras!
- É para já!
Eduardo Franciskolwisk
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