Entrou uma mulher acompanhada de sua filhinha na lanchonete da esquina. Ao vê-la gritou tapando com as mãos os olhos da filha:
– Mas quanta ousadia a sua! Não vê que aqui é um lugar de família? Que baixaria!
A mulher, já com sua filha nos braços, deu meia volta e saiu indignada da velha lanchonete.
Ela, então, terminou de tomar sua água, aparentemente estava calma e se perguntava por que onde quer que ela fosse ou passasse as pessoas a apontavam ou fugiam, não sobrando ninguém.
Lembrou-se do dia em que estava andando normalmente pela calçada da rua principal da cidade e, no meio de tantos olhares agressivos, escutou uma voz infantil no mais alto e claro som:
- Olha lá, mamãe! A vaca está na calçada!
Ela sentiu uma dor imensa ao escutar isso dos lábios de um ser que, pela idade aparentada, devia ser tão inocente. Ela era vaiada, mesmo nunca tendo feito nada de mal a ninguém.
A angústia continuava a fazê-la pensar, e estava tão distraída que só caiu em si quando já estava a dois quarteirões da lanchonete. Caiu em si para ouvir mais um desaforo. Dois garotos a viram e um fez questão de imitá-la em relação ao efeito sonoro:
- Muuuuuuuuuu!
O outro se satisfez apenas dando boas e compridas gargalhadas.
Desde que havia se mudado para aquela cidade, sua vida não era a mesma. Sua mãe tinha lhe dito que seria difícil, porém resolveu enfrentar todos os desafios.
- Não vá, minha filha! A vida na cidade grande não é para nós.
Mas a vontade de conhecer era muito grande.
- Tudo bem. Mas se algum dia você quiser voltar, estaremos sempre prontos para recebê-la. – disse a mãe quando viu que não ia mudar a opinião da filha.
E foi por isso que ela foi para a cidade.
Realmente, nada estava sendo fácil! Não tinha emprego e só algumas vezes arranjava algum homem que lhe desse trabalho em troca apenas de comida e água, como o dono da lanchonete da esquina. Ele era a única pessoa que não se importava de tê-la por perto. Ele nem se importava sobre as coisas que a cidade falava:
- Nossa! Você viu? Olha ele ali com aquela vaca! – dizia um.
- A que ponto chegamos, meu Deus! – falava uma outra.
Talvez fosse porque ele era uma pessoa sozinha. Não tinha filhos e sua mulher morrera em um assalto que houve lá na lanchonete mesmo. Ele precisava de companhia.
Ela, ao atravessar uma rua, provocou grande revolta e sustos nos motoristas.
- Quem colocou esse bicho no meio da rua? – gritou um que acabava de dar uma freada brusca para não atropelá-la.
Um carro do IBAMA que acidentalmente passava por ali, parou para defendê-la.
- Se alguém encostar nessa vaca para fazer algo de mal eu tomarei as devidas providências!
Ela, no meio dessa confusão, lembrou do que a mãe tinha falado e decidiu voltar para casa. Fugiu dali com uma certa dificuldade, mas em algumas horas já estava com os pés na estrada. Sentia-se triste, mas não muito. Estava voltando para casa.
A vaquinha caminhou lentamente até chegar na fazenda onde nascera. E durante toda a viagem balançava o rabo para lá e para cá. Isso era coisa que ela tinha aprendido com um cachorro para expressar felicidade, a felicidade de ter, pelo menos, lutado para conquistar o seu grande sonho.
Eduardo Franciskolwisk
Nada mal.
ResponderExcluirNum sei se é a veterinária falando mais alto... mas gostei XD
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