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quarta-feira, 9 de março de 2022

Primos #3 – Quem vai pagar a conta?

A terceira parte é a que menos me incomodou porque aconteceu com um primo por parte do meu pai, pessoas com quem eu nunca tive muita proximidade.
 
Moro com minha mãe. Raríssimas vezes vamos ao supermercado juntos. Neste fatídico dia, fomos. Estávamos perto um do outro quando encontramos um primo com a esposa. Ele é mais velho do que eu. Encontramos, conversamos e cada um continuou suas compras.
 
Um tempinho depois, encontrei eles de novo, mas desta vez eu estava sozinho. Minha mãe estava em outra parte do supermercado. Conversamos mais um pouco porque a esposa dele é bem legal.
 
No meio da conversa, meu primo me pergunta este absurdo:
 
— Quem é que vai pagar as compras?
 
Eu não sabia se ria ou se chorava. Eu simplesmente não acreditei na pergunta que ele estava me fazendo. Foi do nada. Sem contexto nenhum. Eu entenderia se estivéssemos falando sobre dinheiro ou contas, mas a pergunta veio do nada.
 
Um absurdo na minha opinião. Em primeiro lugar, nunca tivemos muita intimidade. Se eu me lembro de ter visto ele 5 vezes na minha vida quando criança foi muito. E numa delas eu estava voltando para casa à noite numa rua sem iluminação, e ele me assustou correndo atrás de mim. Depois disto, ele foi para outro país e só voltou depois que eu era adulto.
 
Em segundo lugar, quem ia pagar a conta não interessava em nada a ele. E eu devia ter dito “Não te interessa”, mas aí entra o jeito Eduardo de ser e tentar ser educado. Não por ele, mas pela esposa.
 
A pergunta foi “Quem vai pagar as compras?”, mas o que ele queria dizer ali era: “Você ainda é sustentado pela sua mamãe?”. Era a resposta à esta pergunta que ele estava curioso em saber.
 
Eu fiquei super sem graça.
 
O terceiro ponto do absurdo seria a humilhação de ter de responder que quem pagaria as contas seria minha mãe. Eu com uns 37 anos sendo sustentado pela minha mãe por não ter emprego e precisar da ajuda financeira dela para comprar itens básicos de sobrevivência. Foi uma pergunta cruel. Há toda uma imaginação por trás desta pergunta e ela não seria feita se ele tivesse a certeza de que eu pagaria as compras. Então, a intenção foi me humilhar ou me deixar em uma situação constrangedora.
 
Há muitas pessoas vivendo nesta situação por terem perdidos seus empregos na pandemia, casos em que o idoso é a principal fonte de renda devido à sua aposentadoria. 
 
Não sei se ele sabe ou lembrava que eu trabalho. Talvez, ele achasse que apesar de trabalhar, eu não ajudasse em nada aqui em casa. Talvez ele achasse que eu, por morar com a minha mãe, deixasse que ela pagasse todas as contas, como minha irmã fazia.
 
Depois de pensar um pouco e fazer uma cara de estranhamento e confusão, minha resposta foi:
 
— O cartão de crédito. A gente usa ele.
 
Mas obviamente não era a resposta que ele queria. Então, tentei me justificar falando que raramente nós íamos ao supermercado juntos e que cada um pagava suas próprias compras. Mas como eu tinha um cartão de vale alimentação, minha mãe também usava ele.
 
Até hoje eu fico imaginando se ele me fez mesmo esta pergunta absurda. Eu não acredito que isto tenha acontecido, mas aconteceu. Foi surreal. E fico imaginando o que as pessoas têm na cabeça.
 
Eu também tenho um monte de perguntas absurdas que queria fazer para todo mundo, mas não faço porque tento ter bom senso.
 
Eduardo Franciskolwisk

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