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terça-feira, 18 de novembro de 2025

Enterprise - O dia que agarrei uma menina de 8/9 anos

Enterprise: brinquedo girando


Posição: como ficam 2 pessoas
no carrinho do Enterprise


Aqui na minha cidade, tem uma festa de peão muito conhecida no Brasil. “Nóis, os caipira” da cidade, só tínhamos acesso a coisas novas e diferentes durante o período que acontecia esta festa.
 
Então, McDonald´s, crepes suíços e parque de diversões com brinquedos “irados” eu só via nesta época do ano.
 
Um destes brinquedos era o “Enterprise”. Tinha que ser muito corajoso para ir nesta bagaça. O brinquedo é um círculo com carrinhos fechados com grades que começa girando como se fosse um carrossel, mas bem rápido. E o que deixa ele radical é que ele vai levantando até ficar em pé como se fosse uma roda gigante. Porém, quem está nos carrinhos, chega a ficar de ponta cabeça girando num looping.
 
Na vida, eu fui poucas vezes no Enterprise. Exagerando, posso dizer que fui 3 vezes.
 
Naquele dia, eu estava com alguns amigos, mas estávamos em número ímpar. Como sempre fui muito querido socialmente pelas pessoas, sobrou eu para ir sozinho em um carrinho que comportava apenas 2 pessoas.
 
Mas, com a fila do brinquedo cheia, com certeza alguém aleatório iria comigo. “Meio chato, mas vou fazer o quê?” – pensei.
 
Na fila, tinha uma mulher adulta, sua amiga adulta e a filha da mulher, uma menina de uns 8 ou 9 anos de idade.
 
Na hora de entrar no brinquedo, foi todo mundo correndo para pegar um carrinho. Eu peguei o meu e fiquei lá, esperando a emoção começar.
 
Aí, me passam as 3 senhoritas e param no meu carrinho.
 
A menina disse:
 
— Não, mãe! Eu quero ir com você!
 
E a mãe respondeu:
 
— Não, Fulaninha. Eu vou com a Beltrana (a amiga). E continuou. — Vai aqui com este moço.
 
E já na época, com uns 14 ou 15 anos, eu não acreditei no que presenciei: uma mãe que deixou sua filha criança sozinha com um estranho no carrinho fechado do Enterprise para se divertir com a amiga.
 
A menina entrou e sentou na minha frente. O lugar dela era um pouco mais baixo que o meu. Então, ela ficava na minha frente no meio das minhas pernas.
 
Se eu estava com um pouco de medo, imagina a menina.
 
Provavelmente, devo ter conversado com ela pois tenho certeza que ela era a filha de uma das mulheres e a outra, era uma amiga da mãe. Mas não lembro muitos detalhes.
 
O brinquedo começou a andar e nós dois estávamos até animados, mas logo o brinquedo começou a pegar velocidade.
 
A menina gritou. Mas e daí? Eu também estava gritando, assim como cada pessoa dentro daquele brinquedo. Faz parte da experiência gritar como se estivesse morrendo.
 
Depois de um tempinho, a menina começou entrar em pânico de verdade. Ela começou a chorar e a pedir:
 
— Socorro, me segura. Eu vou cair.
 
Fazia todo sentido porque quando entrei no carrinho, não tinha nenhum cinto de segurança me prendendo. Eu até me perguntei “Eu não tinha que estar preso em algum lugar como em todos os outros brinquedos?”. Pelo que entendi, a segurança era se agarrar nos ferros. E se é assim, assim a gente faz.
 
O problema é que ela começou a gritar desesperadamente. De verdade verdadeira.
 
— Eu vou cair, eu vou cair. Me segura!
 
Eu gritava:
 
— Não, você não vai cair. Não vai cair!
 
E ela chorava e gritava em pânico cada vez mais:
 
— Socorro! Me segura! Eu vou morrer!
 
Eu já estava muito preocupado. A diversão já tinha ido embora.
 
Aí, eu agarrei a menina. Abracei ela por trás e falava:
 
— Você não vai cair! Eu estou te segurando.
 
E a menina gritava e chorava mais e mais. E eu pensava “Que mãe filha da p*uta. Me deixou uma bomba. A menina vai morrer e sou eu que estou no carrinho com ela.”
 
Eu já nem sabia mais se o carrinho estava de cabeça para baixo, subindo, descendo ou voando para marte. Eu agarrei a menina e tentava acalmar ela:
 
— Calma, você não vai cair, você não vai morrer. – e repetia isto 1 milhão de vezes. — Eu estou te segurando!
 
E foi assim até o brinquedo parar. Eu não aproveitei nada.

Quando o brinquedo parou, lá estava eu abraçado com aquela menina desconhecida. Estávamos exaustos. Foi como se uma guerra tivesse acabado. Parecia que nós dois tínhamos sobrevivido a uma bomba e com os corpos caídos, apenas nos restava a recuperação.

Depois de um tempinho nos recompondo, eu disse para menina:
 
— Viu só? Eu te disse que você não ia cair, nem morrer! Deu tudo certo.
 
A menina já toda plena e recomposta, virou para mim, jogou o cabelo para trás com uma das mãos e disse:
 
— Obrigada, moço!
 
E saiu.
 
Fiquei surpreso. Para ela era como se não tivesse acontecido nada. E eu fiquei lá todo estropiado. Os músculos todos duros de tensão e o principal, uma ânsia de vômito gigantesca.
 
Eu não conheço ela, nem nunca mais vi. Mas eu nunca vou esquecer esta menina e nem a jogada de cabelo para trás que ela fez quando me agradeceu.
 
Até hoje eu fico pensando se o desespero dela era real ou se fazia parte da experiência dela de andar no Enterprise.
 
Eu passei o resto daquele dia jogado nos bancos do Parque esperando o mundo parar de rodar e a vontade de vomitar passar. E eu nunca mais andei no Enterprise.
 
Eduardo Franciskolwisk

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