Aqui na minha cidade, tem uma
festa de peão muito conhecida no Brasil. “Nóis, os caipira” da cidade, só
tínhamos acesso a coisas novas e diferentes durante o período que acontecia
esta festa.
Então, McDonald´s, crepes
suíços e parque de diversões com brinquedos “irados” eu só via nesta época do
ano.
Um destes brinquedos era o
“Enterprise”. Tinha que ser muito corajoso para ir nesta bagaça. O brinquedo é
um círculo com carrinhos fechados com grades que começa girando como se fosse
um carrossel, mas bem rápido. E o que deixa ele radical é que ele vai
levantando até ficar em pé como se fosse uma roda gigante. Porém, quem está nos
carrinhos, chega a ficar de ponta cabeça girando num looping.
Na vida, eu fui poucas vezes no
Enterprise. Exagerando, posso dizer que fui 3 vezes.
Naquele dia, eu estava com
alguns amigos, mas estávamos em número ímpar. Como sempre fui muito querido
socialmente pelas pessoas, sobrou eu para ir sozinho em um carrinho que
comportava apenas 2 pessoas.
Mas, com a fila do brinquedo
cheia, com certeza alguém aleatório iria comigo. “Meio chato, mas vou fazer o
quê?” – pensei.
Na fila, tinha uma mulher
adulta, sua amiga adulta e a filha da mulher, uma menina de uns 8 ou 9 anos de
idade.
Na hora de entrar no brinquedo,
foi todo mundo correndo para pegar um carrinho. Eu peguei o meu e fiquei lá,
esperando a emoção começar.
Aí, me passam as 3 senhoritas e
param no meu carrinho.
A menina disse:
— Não, mãe! Eu quero ir com
você!
E a mãe respondeu:
— Não, Fulaninha. Eu vou com a Beltrana
(a amiga). E continuou. — Vai aqui com este moço.
E já na época, com uns 14 ou 15
anos, eu não acreditei no que presenciei: uma mãe que deixou sua filha criança
sozinha com um estranho no carrinho fechado do Enterprise para se divertir com
a amiga.
A menina entrou e sentou na
minha frente. O lugar dela era um pouco mais baixo que o meu. Então, ela ficava
na minha frente no meio das minhas pernas.
Se eu estava com um pouco de
medo, imagina a menina.
Provavelmente, devo ter
conversado com ela pois tenho certeza que ela era a filha de uma das mulheres e
a outra, era uma amiga da mãe. Mas não lembro muitos detalhes.
O brinquedo começou a andar e
nós dois estávamos até animados, mas logo o brinquedo começou a pegar
velocidade.
A menina gritou. Mas e daí? Eu
também estava gritando, assim como cada pessoa dentro daquele brinquedo. Faz
parte da experiência gritar como se estivesse morrendo.
Depois de um tempinho, a menina
começou entrar em pânico de verdade. Ela começou a chorar e a pedir:
— Socorro, me segura. Eu vou
cair.
Fazia todo sentido porque
quando entrei no carrinho, não tinha nenhum cinto de segurança me prendendo. Eu
até me perguntei “Eu não tinha que estar preso em algum lugar como em todos os
outros brinquedos?”. Pelo que entendi, a segurança era se agarrar nos ferros. E
se é assim, assim a gente faz.
O problema é que ela começou a
gritar desesperadamente. De verdade verdadeira.
— Eu vou cair, eu vou cair. Me
segura!
Eu gritava:
— Não, você não vai cair. Não
vai cair!
E ela chorava e gritava em
pânico cada vez mais:
— Socorro! Me segura! Eu vou morrer!
Eu já estava muito preocupado.
A diversão já tinha ido embora.
Aí, eu agarrei a menina.
Abracei ela por trás e falava:
— Você não vai cair! Eu estou
te segurando.
E a menina gritava e chorava
mais e mais. E eu pensava “Que mãe filha da p*uta. Me deixou uma bomba. A
menina vai morrer e sou eu que estou no carrinho com ela.”
Eu já nem sabia mais se o
carrinho estava de cabeça para baixo, subindo, descendo ou voando para marte.
Eu agarrei a menina e tentava acalmar ela:
— Calma, você não vai cair,
você não vai morrer. – e repetia isto 1 milhão de vezes. — Eu estou te
segurando!
E foi assim até o brinquedo
parar. Eu não aproveitei nada.
Quando o brinquedo parou, lá
estava eu abraçado com aquela menina desconhecida. Estávamos exaustos. Foi como
se uma guerra tivesse acabado. Parecia que nós dois tínhamos sobrevivido a uma
bomba e com os corpos caídos, apenas nos restava a recuperação.
Depois de um tempinho nos recompondo, eu disse para menina:
— Viu só? Eu te disse que você
não ia cair, nem morrer! Deu tudo certo.
A menina já toda plena e
recomposta, virou para mim, jogou o cabelo para trás com uma das mãos e disse:
— Obrigada, moço!
E saiu.
Fiquei surpreso. Para ela era
como se não tivesse acontecido nada. E eu fiquei lá todo estropiado. Os
músculos todos duros de tensão e o principal, uma ânsia de vômito gigantesca.
Eu não conheço ela, nem nunca
mais vi. Mas eu nunca vou esquecer esta menina e nem a jogada de cabelo para
trás que ela fez quando me agradeceu.
Até hoje eu fico pensando se o
desespero dela era real ou se fazia parte da experiência dela de andar no
Enterprise.
Eu passei o resto daquele dia
jogado nos bancos do Parque esperando o mundo parar de rodar e a vontade de
vomitar passar. E eu nunca mais andei no Enterprise.
Eduardo Franciskolwisk


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