Desde o nascimento de Eros, todos sabíamos que aquele garoto iria dar o que falar porque essas foram as palavras do próprio médico, o que foi responsável por sua chegada na Terra. De princípio, ninguém entendeu muito bem o que o doutor queria dizer com aquelas palavras, mas com o passar do tempo, aí sim, soubemos do que se tratava.
As vizinhas, por não acreditarem, comentavam umas com as outras:
– Menina, você viu só o filho mais novo da Jararaca ali da frente? É tão bonzinho que nem parece filho dela...
– Eu percebi, uma doçura de menino. Ele é o único menino da rua a não chamar meu filho de “macaco vesgo com reumatismo”!
Era Eros sobre quem todos comentavam e a quem todos admiravam, apesar dos seus poucos anos de vida.
Quem pensa que Eros era bom o suficiente para levar para casa um animalzinho achado na rua, como todas as crianças fazem, se engana. Ele queria que todos os bichos da região que estavam abandonados fossem morar em sua casa. E era capaz de ficar horas no ouvido da mãe para convencê-la de que “onde come um, comem dois, e onde comem dois, comem três...” até chegar no número vinte e sete, ou seja, o número de gatos ou cachorros sem dono que ele tinha visto naquele mesmo dia.
O sorveteiro, então, adorava quando o garoto conversava com ele porque, diferente dos outros meninos, Eros não pedia sorvete de graça e nem dava importância à ausência de dois dedos em sua mão esquerda. Passou a ajudá-lo a vender sorvete pelas ruas depois que soube de algumas de suas dificuldades financeiras.
Na medida em que o tempo passava as pessoas falavam:
– O coração desse menino não pára de crescer!
Como podia uma criança tão pequena querer resolver todos os problemas do mundo? Geralmente, as crianças gostam de fazer maldades. Não porque sejam más, mas simplesmente por curiosidade. Todas elas, alguma vez, já tiraram um peixe do aquário para ver se ele morre mesmo, ou já rasgaram o material escolar do irmão mais velho para saber qual seria a reação dele. Mas Eros era diferente, parecia que já sabia o que tudo isso causava e por isso só fazia coisas que pudessem agradar as pessoas.
Passavam-se meses e, mesmo assim, as vizinhas todos os dias comentavam:
– Ele é tão bom que daqui a pouco o coração sai pela boca!
– Aquele menino é um anjo!
Cá entre nós: talvez ele fosse mesmo um anjo, pois ficou muito pouco tempo perto de nós. Porém, o mais provável é que ele fosse uma criança tão normal quanto às outras, mas tão bondosa que suas virtudes apagavam da cabeça das pessoas os seus defeitos e os seus problemas.
Eros tinha o coração tão grande, mas tão grande, que já não cabia mais em seu peito. O médico disse que foi cardiomegalia o motivo que o levou de nossas realidades e o deixou apenas em nossos pequenos corações.
Eduardo Franciskolwisk
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Leitores, se forem comentar como anônimo por facilidade, peço que deixem pelo menos seus primeiros nomes como assinatura.
Mas se fizerem questão do anonimato, não tem problema!