Era um sábado de noite quando dois amigos resolveram ir à boate mais barulhenta da cidade. Arrumaram-se a ponto de chegar ao impecável e 15 minutos depois, eles já estavam lá.
Ali, do lado de fora, a comunicação já tinha se tornado um pouco difícil devido à altura em que estavam tocando as músicas.
– Me dá aqui o seu dinheiro que eu vou comprar os ingressos - disse um deles.
– Que? – respondeu o outro. – Fala mais alto que eu não escutei nada.
O primeiro repetiu, porém, desta vez, com uma voz mais potente:
– Eu disse que é para você me dar o seu dinheiro que eu compro os ingressos para nós dois. Entendeu?
– Ah... Agora sim, eu entendi! Pega aqui. – e ele deu para o amigo o valor da sua entrada.
Pronto, tudo estava certo.
– Só o que falta agora é entrar, não é verdade? – falou bem alto o que cuidou da compra.
– O que estamos esperando? Vamos lá! – disse mais alto ainda o outro.
Lá dentro, como era de se esperar, ninguém escutava nada além da música que não parava um segundo de tocar. Era impossível que duas pessoas se entendessem. Mas os nossos dois conhecidos não sabiam disso e por isso tentaram de qualquer forma conversar aos berros.
– Eu vou ao banheiro!
Sem entender nada, a curiosidade do outro perguntou:
– Que?
Mas o primeiro também não entendeu nada desse simples “que?”. E nessa hora, quem ficou curioso foi ele. Quis saber o que amigo havia falado:
– O que você disse? – gritou o mais alto que pôde.
Apesar de o amigo estar olhando para ele, não foi possível entender praticamente nada. A única coisa que entendeu, ou achou entender, foi a palavra “tia”. Ou seja, ele estava realmente perdido.
O mais inteligente deles teve uma maravilhosa idéia. Depois de quase exatamente 45 minutos de puro “– Que?”, “– Ãh?”, “– Como é que é?” uma maravilhosa idéia nasceu em sua cabeça.
Não estranhem pelo ressalto que a inteligência dele teve. Até porque é de se estranhar que alguém inteligente demore tanto tempo fazendo uma coisa tão inútil. O fato é que eu não disse que ele era inteligente, só disse que era o mais inteligente dos dois. Sempre haverá alguém com mais inteligência que os demais, inclusive quando essa comparação ocorre somente com gente burra.
A idéia era levar o amigo para fora da boate, em um lugar que fosse fácil o diálogo. Então, começou a colocá-la em prática. Fez vários sinais para que o companheiro saísse daquele local barulhento.
– O que você queria dizer? – insistia o que estava sendo levado para fora da boate.
Todavia, o outro não entendia nada, o que lhe aumentava muito a curiosidade.
– Fala o que você quer logo. Onde você está me levando? – repetia o mesmo.
Nenhum dos dois se escutavam. Talvez, por perceberem isso, pararam de tentar uma comunicação até chegarem ao lugar onde fazer isso seria possível.
– Pronto. Agora que já saímos da boate, que já estamos em um lugar onde dá para conversar, me diga, o que você tinha me falado?
Seu amigo estranhou a pergunta, afinal de contas, era ele quem tinha algo para dizer. E disse:
– Eu? Eu não. Foi você que começou a conversa.
– Eu disse que ia ao banheiro, mas depois disso você disse algo complicado. O que era?
– Eu não falei nada. Apenas não tinha entendido que você ia ao banheiro.
– Então, você não quer me falar nada?
– Não.
– Que droga, eu te trouxe até aqui porque estava muito curioso para saber o que você queria dizer e era tudo mal entendido?
– Era.
– Faz um tempão que eu estou aqui apertado, querendo fazer xixi...
– Então, porque você não pára de falar e vai ao banheiro?
– Vamos voltar para a boate e lá eu vou.
– Vamos!
Quando novamente estavam na porta da boate, os seguranças os barraram! E eles, os garotos, exigiram uma explicação. Por causa do barulho alto e já prevenidos, os homens levantaram uma placa que dizia.
– Para entrar na boate, somente com ingressos.
Os dois amigos se olharam, olharam e olharam. E sem trocar uma só palavra, chegaram à conclusão de que queriam era mesmo voltar para casa. Com raiva, mas voltar para casa.
Eduardo Franciskolwisk
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