Esta história aconteceu num verão. Num lugar onde até o inverno chega a ser quente. O calor estava demais. Tanto dentro como fora de casa, parecia que tudo iria se derreter. Mas para qualquer garoto da idade dele, aquilo tinha uma solução:
– Vovó, me dá sorvete?
– Sabe que você teve uma boa idéia? Vamos para a cozinha. Além de ser o lugar mais fresco da casa, no congelador tem bastante sorvete.
O neto da senhora mal acabou de escutá-la e já estava sentado na mesa da cozinha. Já a avó, demorou um pouco mais, pois a idade já não a deixava ser tão rápida.
– Vó, hoje, que está muito quente, eu posso tomar três bola de sorvete?
Ela o olhou como se fosse negar o pedido e o garoto logo deu mais um argumento a seu favor:
– É que lá no congelador tem três sabores de sorvete. E eu queria muitíssimo uma bola de cada. Pode ser assim? Deixa vai!
– Deixo. Mas só por dois motivos: um é por causa do calor e o outro é porque você comeu tudo no almoço.
A avozinha colocou num copo d’água as bolas de sorvete que o neto tinha lhe pedido. Uma de chocolate, outra de flocos e a outra que se chamava Barba Azul, um sorvete que era novidade para ela porque tinha cor azul.
Entregou o copo para o neto com uma colher meio velha. Quando ia se sentar à mesa, o telefone da sala tocou. E ela disse:
– Eu já volto, querido. Vai tomando o seu sorvete enquanto eu vou atender o telefone.
Quando o garoto ia colocar a primeira colherada de sorvete na boca, pensou:
– Esta colher está um pouco velha, acho melhor eu procurar uma mais bonita.
Levantou-se e na gaveta em que estavam as colheres, escolheu a que mais combinava com o seu gosto.
De novo sentado na cadeira, ia levando a primeira colherada de sorvete à boca, mas parou no meio do caminho e pensou:
– Onde será que está o pano? Tenho que limpar essas gotas de sorvete que caíram da minha colher na mesa.
Levantou-se e logo achou o pano e com ele limpou a mesa. Quando ia se sentar, viu que uma gotinha do sorvete tinha caído em sua camiseta e pensou:
– Puxa, quase que eu não vi esta gota na minha camiseta. Melhor eu limpá-la agora para que, depois, eu possa tomar meu sorvete sossegado.
E assim ele fez, limpou a camiseta. Só que quando terminou, percebeu que a avó não tinha jogado o lacre do sorvete no lixo e pensou:
– Tão perto de mim e eu já ia deixando de perceber. Não me custa nada jogar essa sujeira fora para poder tomar meu sorvete em paz.
O garoto amassou com as mãos o lacre do sorvete e também a embalagem de papelão. Foi até o lixo, jogou tudo fora e voltou correndo para a mesa.
Acomodou-se na cadeira, mas só depois pensou:
– Isso não está certo! Não lavei as mãos. De mãos sujas não poderei saborear o meu sorvete.
Levantou novamente, lavou as mãos e voltou correndo para se sentar à mesa. Agora sim, tudo estava perfeito.Agora sim, ele poderia tomar sorvete. Então, ele pegou a colher com uma mão e o copo com a outra. Só que o sorvete já havia derretido.
A avó, sabendo do perfeccionismo do neto e vendo sua tristeza, lhe disse:
– Querido, se você tentar fazer com que tudo seja sempre perfeito, ficará sempre triste. Saiba que algumas coisas não precisam ser perfeitas, precisam apenas ser aproveitadas. O que você acha de aproveitar agora um sorvete com três bolas?
Eduardo Franciskolwisk
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Leitores, se forem comentar como anônimo por facilidade, peço que deixem pelo menos seus primeiros nomes como assinatura.
Mas se fizerem questão do anonimato, não tem problema!