– Rex, não entre em casa! – dizia a mãe.
– Vá já para o seu canto, seu bicho imundo! – gritava a avó.
– Ô mãe, o Rex vomitou de novo em cima da minha cama! – reclamava a filha mais velha.
– E ele também me mordeu bem aqui no braço, olha só! – continuou o mais novo.
Pode até não parecer, mas Rex é um gato. É o gato da família.
Quando os primeiros miaus começaram a ser dados, o filho mais novo achou que aquele seria o seu mais novo e fiel escudeiro, porque naquele bichano, sim, ele poderia confiar. Já a menina viu um lindo e indefeso gatinho, e por isso ele iria dormir com ela todos os dias em sua cama, porque no Rex, sim, ela poderia confiar. Os pais deles adoraram a idéia de ter um animalzinho em casa, porque nele todos iriam confiar.
Alguns meses se passaram e, num certo dia, o garoto foi à procura do gato, para que assim pudessem brincar.
– Rex! Cadê você, meu mais novo e fiel escudeiro?
O gato, que já estava cansado das brincadeiras chatas do doninho, tinha se escondido.
– Ai, meu Deus! Se ele me encontrar, eu não vou agüentar! Todo dia é a mesma chatice. Esse menino chato não me deixa em paz, se ele me encontrar...
– Achei! Achei! Achei você, seu gato dorminhoco! Acorda! Acorda, Rex, venha brincar comigo daquela brincadeira legal que eu inventei.
Mas o gato não se mexeu. Mesmo com tanta insistência do garoto ele não se levantou. Naquela hora, ele fingia dormir, mas não estava dormindo. E o garoto desistiu.
– Rá, rá rá! Enganei o chato!
Mais dias se passaram e o gato Rex não queria mais dormir na cama da menina porque ela passava perfuminho e o penteava todinho antes de irem nanar.
– Gatinho Rex, onde você está? Venha aqui com a mamãe para podermos passar perfuminho e irmos dormir.
– Ai, meu Deus! Se ela me encontrar, eu não vou agüentar! Todo dia é a mesma coisa ridícula! Essa chata não me dá sossego, se ela me encontrar...
– Até que enfim te achei! Eu sabia que você estava na cozinha porque eu não te achei em parte alguma da casa. Vou esperar você acabar de comer, aí eu te levo para o meu quarto.
Mas o gato não acabava de comer e nem acabava com a comida que estava no prato. Naquele momento, o gato fingia comer, mas não estava comendo. Então, a menina desistiu.
– Que maravilha, enganei ela também! Rá, rá rá!
Mais tempos se passaram e as coisas continuaram daquele jeito.
– Rex, não entre em casa! – dizia a mãe.
E ele fingia que não ia entrar, mas depois entrava.
Houve um dia em que o pai dos meninos se sentou no sofá bem pertinho de onde o gato estava. Pouco tempo depois, o pai deu um grito e saiu correndo pela sala com o gato dependurado na bunda, tamanha a força da mordida que tinha levado. Ele mordia sem por quês! O Rex fingia ser bom, mas não era.
As pessoas ainda tentavam ser amigas dele, apesar de tudo o que ele havia feito naquela casa. Ele pensava deste modo:
– Viver é bom demais! Todo mundo aqui acredita em mim e eu engano todo mundo. Rá, rá, rá!
Agora, alguns anos se foram e ninguém mais dava bola para o gato naquela família. O gato achava que sabia muito porque sabia fingir. E ele sabia mesmo! O que ele não sabia é que enganando todo mundo ele enganava somente a si mesmo, pois fingindo dormir, fingindo comer e fingindo ser bom, ele fingia viver.
Um gato tem sete vidas, Rex usou a última ontem de tarde. Até ontem, o gato fingia viver, mas não estava vivendo.
Eduardo Franciskolwisk
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