Há três anos, numa noite que parecia ser igual a todas as outras, fui me deitar bem mais cedo do que de costume. Deitei-me à meia-noite. Não consegui pregar os olhos um minuto sequer, algo não me cheirava bem, minha intuição estava gritando que algo ia acontecer, eu só não sabia onde, nem quando e nem o por quê!
Então, fiquei, como de costume, virando de um lado para outro na cama, imaginando o que eu não deveria imaginar. Acho que já era um pouco tarde quando percebi que, ao pé da letra, algo não me cheirava bem. Olhei para a porta e vi que havia fumaça por todos os buracos que existiam. Entrei em pânico! Saí sem levar nada pela janela, eu não me lembrei de carregar nada naquele instante.
Minha sorte foi que a janela do meu quarto dava para rua e, por isso, logo percebi que tinha inúmeras pessoas olhando minha casa virar pó. Disseram-me que já tinham chamado o corpo de bombeiros e que chegariam em cinco minutos. Mas não daria tempo para fazer nada, o fogo já estava no meu quarto e queimava com tanto amarelo, vermelho e laranja que notei que eu tinha perdido tudo. Eu não tinha mais nada.
Comecei a pensar nas coisas que eu tinha perdido. Coisas que demorei a vida inteira para construir um incêndio destruiu em questão minutos. Não pensava em televisão, geladeira ou vídeo cassete, só pensava em textos de minha autoria e diplomas, certificados e homenagens que tinha recebido durante toda a minha vida. Agora tudo era pó.
Nas quatro semanas seguintes ao incêndio fiquei em casa de amigos e parentes, era muita gente querendo me ajudar. Que bom! Porém, quase não saía de dentro de casa, quase não saí para o mundo, minha cabeça só pensava em como as pessoas iriam reconhecer meus méritos. Eu nunca achava uma solução para isso. Até que um dia, numa das minhas raras saídas, num restaurante, um grupo de adolescentes me viu chegar e uma delas disse para a outra.
– Olha! Não é aquele cara que escreveu aquele livro? Eu nem acredito! É ele mesmo?
Ela tinha um sorriso na cara. Embora não tivesse feito escândalo eu escutei suas palavras porque estava sentada perto da porta de entrada. Mal sabe ela que agora virou uma de minhas histórias. Mal sabe ela do bem que fez.
Agora, como antes, sei que é muito gostoso receber um certificado ou uma homenagem, mas aprendi que essas coisas não valem nada perto de quando se está na memória das pessoas.
Ser lembrado, com ou sem certificado, isso é o que vale! Sabe como descobri isso? Foi por culpa de um incêndio!
Eduardo Franciskolwisk
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