Eles nunca tinham sido amigos. Eles nunca tinham se visto e nem se esbarrado por aí. Eles não tinham nada em comum, além do motivo que os tinha levado àquela pequena sala de espera.
Além dos dois, havia mais duas mulheres: a secretária e uma quarentona que não conseguia segurar o choro. Um pequeno lenço de pano era o único a tentar consolá-la, absorvendo o quanto podia do pranto da mulher. Todos estavam sérios!
A secretária, já acostumada com esse tipo de gente, era calma e tinha muita paciência. Era a única que sorria sinceramente quando algumas palavras eram trocadas por ali. Para tentar ajudar aos outros, ela sempre dizia a si mesma:
– A depressão é contagiante, mas tenho certeza de que o sorriso também é!
E era por isso que ela sorria ao falar com aquelas pessoas.
O silêncio era a maior parte do tempo. Porém, uma vez ou outra, alguns olhares eram trocados entre os quatro.
O psiquiatra, pelo telefone, disse que a secretária poderia pedir para que a mulher desesperada entrasse em sua sala. A secretária a conduziu até a sala dele. Passaram-se alguns minutos, algumas dezenas de minutos... E nesse tempo, os três que haviam ficado, mantiveram silêncio. Os dois adolescentes não choravam, mas era possível ver em suas caras sérias e em seus olhares fixos e pensativos, a tristeza, o desespero e a apreensão.
Mais ou menos, duas horas se passaram e a mulher saiu da sala do doutor bem mais aliviada e calma. Sinceramente, não era nem possível ver que ela tinha chorado. Na mão, ela carregava a receita de um antidepressivo: Oxeflutina 5mcg.
Logo depois, foi a vez de um dos adolescentes. Uma hora depois, ele saiu da sala do psiquiatra com um sorriso tão sincero quanto o da secretária. Ele realmente estava se sentindo bem e comentou com a moça:
– Fui diagnosticado como “maníaco depressivo” – brincou ele. – Mas falando sério, – continuou – esse cara aí é médico ou é mágico? Estou me sentindo muito melhor!
A moça riu e se despediu dele. Enquanto ele ia embora, olhou mais uma vez para o outro adolescente e disse abanando a mão com a receita médica:
– Tchau! Qualquer dia a gente se vê por aí... Ou, por aqui mesmo!
O outro adolescente fez apenas um sinal com a cabeça. Era quase certo de que ele também sairia melhor dali.
Segundos depois, a secretária disse para o último paciente:
– Vamos entrar? O doutor já está esperando!
O mesmo aconteceu! Uma hora depois , mais ou menos, o adolescente foi embora bem melhor do que tinha chegado, levando consigo a sua receita.
Dias... Semanas... 3 meses havia se passado. Em um certo dia, o adolescente que se julgava “maníaco depressivo” viu o outro passando em frente a sua casa. E somente o observando, descobriu que ele tinha se mudado para ali perto. Naquela mesma noite, quando ia ao curso de inglês, viu que o novo vizinho estava entrando em um terreno baldio carregando algo que ele não pôde ver. Curioso e sempre pensando no pior, resolveu segui-lo.
Ao entrar no terreno, no meio do matagal, viu com muita clareza a cena: o adolescente estava com uma arma voltada para a própria cabeça.
Ambos se assustaram! Com o pensamento rápido, o adolescente tentou dizer coisas que fizessem com que o outro desistisse, mas não conseguiu. Afinal, ele não era psiquiatra. Tudo indicava que o outro apertaria o gatilho do revólver.
Então, ele disse o que sentia, fazendo o outro soltar a arma e continuar a viver:
– Olha, cara, se eu estivesse com depressão, certamente, eu diria para você: “Vai em frente!”. Mas como eu não estou com depressão, o meu conselho é: “Esqueça isso, vai! Enfrente!”. Eu ajudo você! É só disso que você precisa!
Eduardo Franciskolwisk
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