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sábado, 13 de outubro de 2018

Reclamações sobre a minha vida - Parte 2


Continuação das minhas reclamações: para ler a parte 1, clique aqui.

Um outro exemplo de que fui sabotado é que não participei da minha formatura da faculdade. Para mim não tinha dinheiro para pagar a festa (quase não dinheiro nem para a mensalidade), mas para minha irmãs tinha dinheiro até para mandar fazer o vestido. Para minha sorte, nesta época eu já estava acostumado à minha realidade e já tinha fobia social só que eu não sabia. Então, não liguei muito. Provavelmente, minha mãe pensou que íamos de graça como convidado da minha prima que estudou e formou comigo. Só que a comissão de formatura deixou bem claro que ia barrar na porta (mais terrorismo, mais ameaças) formandos que não estivessem participando como pagantes da festa. Ou seja, depois de tantas humilhações por causa de dinheiro e festa que passei na vida, preferi não arriscar me humilhar mais uma vez.

O mais louco é que a minha mãe foi na minha colação de grau e eu não. Se não me engano, ela até chorou de emoção. Diz para mim que eu sou normal! Que tipo de mãe não paga a colação de grau do filho e vai na colação e ainda chora de emoção? Diga para mim que só uma louca faria isto. 

Outra coisa que me incomodou e eu achei absurdo. A faculdade cobrou para participar da colação de grau. Como eu não tinha dinheiro, não participei. Por lei, cerimônia de colação é grátis. Mas na minha vez, tinha que pagar. Era tão errado que atualmente eles não cobram nada. Só tem que pagar a locação da beca. Mas na minha época a lei não valia.

Aí, juntou a fome com a vontade de comer: eu formando num curso que eu não queria e tendo que pagar, sendo que eu não tinha dinheiro. Não fui na minha colação de grau. E achei o máximo quando uma aluna que colava nas provas ganhou o prêmio de melhor aluna do curso. O mundo é todo errado, todos sempre fazem o errado, mas de mim sempre foi exigido o certo.

Mais um trauma da minha vida: quando eu era criança e ia no supermercado com a minha mãe, eu sempre passava vergonha. Depois de fazer a compra do mês, sempre dava problema na hora de pagar. Sei lá, talvez o cheque não tinha fundos, não sei o problema que dava, mas sempre dava merda. Eu me sentia meio envergonhado e passei a ficar com medo de ir nos lugares e passar esta vergonha de novo. Então, passei a evitar de ir. E quando ia, ficava muito ansioso porque tinha quase certeza que o problema ia acontecer de novo. Talvez este seja mais um motivo para a minha fobia social, um dos pontos onde ela começou.

Outra coisa. Quando criança era eu quem fazia banco para minha mãe. Imagina uma criança indo ao banco tirar extrato e pegar talões de cheque. Quando precisava passar pelo caixa, apesar de ser anos 80, eles faziam de tudo para não me dar a porra do que minha mãe tinha mandado eu fazer lá. Muitas e muitas vezes acontecia isto: eu ia, dava errado, voltava para a escola onde ela trabalhava, aí ela ligava no banco, eu ia de novo no banco e aí dava certo. Mas todas as vezes antes de dar certo, dava errado. Isto foi me gerando ansiedade na hora que eu era o próximo da fila. Já ficava imaginando o que ia dar errado. A coisa me incomodava tanto que por muitos anos, de criança até o final meio da adolescência, eu tinha vontade de colocar um bomba naquele banco. Hoje, eu não gosto de ir a nenhum banco presencialmente (nem os bancos querem que nós vamos até lá, vide a porta giratória com sua burocracia para entrar). Só uso pela internet e faço questão de não atender os telefonemas deles. Quando um banco te liga ou é para te cobrar ou é para tentar tirar dinheiro da gente com taxas, cartões de crédito e produtos que são muito vantajosos... para os banqueiros.

Agora, esta é mais uma da imposições que atrapalharam minha vida. Olhando de longe pode não parecer nada, mas para mim que estou dentro é muito desgastante. Minha irmã se mudou de casa e ia vender o guarda-roupa, mas minha mãe quis e minha irmã deu para ela. Como sempre, eu entro na história para tomar no cu bumbum. Eu fui obrigado a ficar com este guarda-roupa no meu quarto. Tive que dar o meu porque era mais porcaria e menor para ficar com o que era melhor e maior. Só que eu não queria. No guarda-roupa que já era meu cabia tudo do jeito que eu precisava dentro do meu quarto. Eu tinha uma cômoda com a televisão numa boa altura. Tinha um espaço para guardar o ventilador quando ele não estava sendo utilizado e o quarto ficava mais livre para andar. Aí, vieram com a imposição de que eu ficasse com o guarda-roupa. Agora a TV fica numa altura baixa e o novo guarda-roupa cobre um pedaço da tela e afeta a visão de quando estou deitado na cama. Ou seja, não dá mais pra ver TV. O ventilador agora fica no meio do quarto o tempo todo, tenho que ficar movendo ele de um lugar para o outro quando tenho que abrir uma porta do guarda-roupa. A cômoda mais alta em que ficava a televisão, teve que sair no meu quarto. Lá dentro tinha um monte de coisa que me ajudava a me organizar. Agora, não é muito útil. Na verdade é, mas como está em outro quarto, agora ficou mais difícil. Então, o guarda-roupa dado de bom grado me atrapalhou a vida. Mas como a geba entra sempre na minha bunda, vou fazer o quê?

Isto me lembrou de quando minha outra irmã morava aqui em casa. Por causa dela me fizeram usar o banheiro do quarto da minha mãe para tomar banho. Então, minha vida é assim: tomo banho em um banheiro, mas escovo os dentes em outro. Faz sentido? Parando para pensar: por que eu tive que fazer isto e não minha irmã? A reposta é: porque quem tem que se foder sou eu, sempre. Hoje, minha irmã não mora mais aqui e eu continuo com o costume sem sentido de tomar banho num banheiro e cagar e pentear o cabelo no outro.

Foi o que fizeram de novo comigo, recentemente, no caso do guarda-roupa: se eu precisar de alguma coisa que está naquela cômoda que estava no meu quarto, agora pra eu pegar tenho que sair do meu quarto e ir para outro quarto pegar o que eu preciso e voltar pro meu quarto. E agora eu me lembrei de outra coisa: no guarda-roupa anterior era só abrir a porta que eu precisava. Neste novo, dependendo da porta que eu preciso abrir, tenho que abrir uma outra porta para abrir a porta que eu preciso. Então, eu fecho a porta que eu não preciso. Aí, para fechar é a mesma coisa, tenho a abrir uma porta para conseguir fechar a outra, senão não fecha direito. Além disso, a porta que eu mais uso do guarda-roupa não abre se a porta do quarto estiver aberta. Depois eu não posso ser maluco? Que sentido faz isto? Que sentido faz viver e se ferrar a favor dos outros? Por que a vida dos outros não foi ferrada na mesma proporção?

continua...

Eduardo Franciskolwisk

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