A
terceira parte é a que menos me incomodou porque aconteceu com um primo por
parte do meu pai, pessoas com quem eu nunca tive muita proximidade.
Moro
com minha mãe. Raríssimas vezes vamos ao supermercado juntos. Neste fatídico
dia, fomos. Estávamos perto um do outro quando encontramos um primo com a
esposa. Ele é mais velho do que eu. Encontramos, conversamos e cada um
continuou suas compras.
Um
tempinho depois, encontrei eles de novo, mas desta vez eu estava sozinho. Minha
mãe estava em outra parte do supermercado. Conversamos mais um pouco porque a
esposa dele é bem legal.
No
meio da conversa, meu primo me pergunta este absurdo:
—
Quem é que vai pagar as compras?
Eu
não sabia se ria ou se chorava. Eu simplesmente não acreditei na pergunta que
ele estava me fazendo. Foi do nada. Sem contexto nenhum. Eu entenderia se
estivéssemos falando sobre dinheiro ou contas, mas a pergunta veio do nada.
Um
absurdo na minha opinião. Em primeiro lugar, nunca tivemos muita intimidade. Se
eu me lembro de ter visto ele 5 vezes na minha vida quando criança foi muito. E
numa delas eu estava voltando para casa à noite numa rua sem iluminação, e ele
me assustou correndo atrás de mim. Depois disto, ele foi para outro país e só
voltou depois que eu era adulto.
Em
segundo lugar, quem ia pagar a conta não interessava em nada a ele. E eu devia
ter dito “Não te interessa”, mas aí entra o jeito Eduardo de ser e tentar ser
educado. Não por ele, mas pela esposa.
A
pergunta foi “Quem vai pagar as compras?”, mas o que ele queria dizer ali era: “Você
ainda é sustentado pela sua mamãe?”. Era a resposta à esta pergunta que ele
estava curioso em saber.
Eu
fiquei super sem graça.
O
terceiro ponto do absurdo seria a humilhação de ter de responder que quem
pagaria as contas seria minha mãe. Eu com uns 37 anos sendo sustentado pela
minha mãe por não ter emprego e precisar da ajuda financeira dela para comprar
itens básicos de sobrevivência. Foi uma pergunta cruel. Há toda uma imaginação
por trás desta pergunta e ela não seria feita se ele tivesse a certeza de que
eu pagaria as compras. Então, a intenção foi me humilhar ou me deixar em uma
situação constrangedora.
Há
muitas pessoas vivendo nesta situação por terem perdidos seus empregos na
pandemia, casos em que o idoso é a principal fonte de renda devido à sua
aposentadoria.
Não
sei se ele sabe ou lembrava que eu trabalho. Talvez, ele achasse que apesar de
trabalhar, eu não ajudasse em nada aqui em casa. Talvez ele achasse que eu, por
morar com a minha mãe, deixasse que ela pagasse todas as contas, como minha
irmã fazia.
Depois
de pensar um pouco e fazer uma cara de estranhamento e confusão, minha resposta
foi:
— O
cartão de crédito. A gente usa ele.
Mas
obviamente não era a resposta que ele queria. Então, tentei me justificar
falando que raramente nós íamos ao supermercado juntos e que cada um pagava
suas próprias compras. Mas como eu tinha um cartão de vale alimentação, minha
mãe também usava ele.
Até
hoje eu fico imaginando se ele me fez mesmo esta pergunta absurda. Eu não
acredito que isto tenha acontecido, mas aconteceu. Foi surreal. E fico
imaginando o que as pessoas têm na cabeça.
Eu
também tenho um monte de perguntas absurdas que queria fazer para todo mundo,
mas não faço porque tento ter bom senso.
Eduardo
Franciskolwisk