Era época de páscoa. O dinheiro estava curto, mas mesmo assim o garoto queria fazer uma surpresa para sua mãe. Ovos de páscoa tradicionais estavam fora de cogitação, pois eram caríssimos. Mesmo assim, o menino se pôs a pensar em como agradá-la através do doce sabor do chocolate. Ele estava eufórico. Sentia alegria na possibilidade de, mesmo que momentaneamente, fazer sua mãe feliz. Ela parecia tão triste e amarga...
Desta forma, o garoto começou a pensar no que faria para tornar seu plano real. Matutou bastante para chegar num ovo pequeno e simples, mas recheado de outros ovinhos menores. A grana só daria para fazer este minúsculo agrado, no entanto ele esperava que a surpresa e a alegria proporcionadas fossem gigantescas.
Ele saiu de fininho para comprar o que precisava. Quando voltou, tentou entrar em casa disfarçadamente, mas com o chocolate nas mãos não seria assim tão fácil. Pensou em um modo inteligente de passar disfarçadamente com a compra escondida em seu corpo e conseguiu: escondeu o chocolate embaixo da camiseta. O plano era perfeito, ninguém desconfiaria de que ele entrava em casa com produtos deliciosos e ocultos; por isso deu início à ação.
Passar pelo alpendre foi fácil, fácil, já que lá não havia ninguém. Porém ao adentrar a sala as coisas se complicaram um pouco porque sua mãe, a pessoa escolhida para receber a surpresa, estava lá.
— Como fazer para que ela não desconfie de nada? – perguntou-se.
Logo lembrou que nada precisaria ser feito por que o chocolate estava muito bem escondido e, lógico, ela não desconfiaria de nada.
Cinco passos! Cinco passos foram o suficiente para que sua mãe percebesse algo embaixo de sua camiseta e perguntasse:
— O que é que você tem aí debaixo da roupa, menino?
— Nada, mãe! – respondeu assustando-se.
Ao perceber que não tinha sido muito convincente, correu em direção ao quarto e pensou:
— Ufa! Consegui! Por pouco a minha surpresa não foi por água abaixo.
Pegou todo o chocolate comprado e rapidamente os guardou no guarda roupa. Neste exato instante, a mãe abriu a porta do quarto rapidamente e desconfiada disse em tom firme e agressivo:
— O que você está escondendo aí, moleque?
— Nada! – insistiu ele. Não queria que a surpresa fosse estragada de forma tão banal e boba. Tanto esforço não poderia terminar assim. — Ela está brava, mas vai ficar feliz quando vir a surpresa feita especialmente para ela. – pensou.
A mãe não pareceu muito convencida com a resposta do garoto. No entanto, aparentemente, não tinha muito tempo para discutir com o filho. Talvez estivesse nervosa com outros assuntos. Por isso, ela disse:
— Não vou perguntar de novo. Mas, preste atenção, se for droga ou alguma coisa assim, eu te arrebento! Escutou? Você entendeu?
O garoto respondeu que havia entendido tudo, só que na verdade não entendera nada. Droga? De onde ela havia tirado isso? Há uma diferença absurdamente gritante entre drogas e chocolates. O menino então se colocou a pensar nos motivos que a levaram a fazer tal pergunta. Eram apenas palavras, mas foi como se ele tivesse levado um soco no estômago. Ferido pela agressão, pensou por algumas horas.
Entristeceu-se com as palavras da mãe. E mais do que isso, perdeu forças. Desanimou completamente da surpresa que faria. Comeu todos os chocolates, não sem antes jogar na cara da mãe que aquilo não eram drogas e sim chocolates que seriam dados a ela como uma grande surpresa.
Seria bom se a história parasse por aí. Mas não foi o que aconteceu. Esta experiência afetou muitas outras que viriam no futuro. Por infelicidade ou decepção, o garoto nunca mais conseguiu ter ânimo para fazer outras surpresas. Sempre as relacionava com “uma tal desconfiança dos outros para com ele”. Aquelas poucas palavras, os gestos confusos daquele dia, enfim, toda aquela situação foi suficiente para marcar a vida inteiro do garoto. E se pensarmos bem, esta foi a surpresa daquela época de Páscoa.
Eduardo Franciskolwisk