Hoje, estou
igual ao Papai Noel na época do Natal: estou de saco cheio!
Vocês não
sabem a sensação ruim que eu sinto quase todos os dias ao sair de casa. E eu
não estou falando de uma síndrome do pânico propriamente dita. Me refiro ao ato
de sair de casa no qual, todas as vezes, tenho que aturar uma pessoa
persistente: meu pai.
Para quem
não sabe, meus pais são separados desde quando eu tinha 12 anos; hoje, tenho
26. E, se vocês querem saber, isso foi uma das melhores coisas que aconteceu na
minha vida. Mas há um pequeno detalhe traiçoeiro: meu pai mora na casa de
frente à minha.
Todas as
vezes que eu saio, abro o portão ou sonho em pôr os pés lá fora, lá está a
figura paternal em cima de mim. Seria meigo, se não fosse irritante. Seria bom
se ele tivesse sido nosso pai quando precisávamos.
Quando vou
para o trabalho, lá está ele tentando ser útil ao fechar o portão.
Quando
estou conversando com alguém lá fora, ele aparece na janela e fica me olhando,
olhando a pessoa, etc.
Quando
entro em casa, ele liga aqui para falar comigo e perguntar o óbvio. Para que
perguntar uma coisa que já se sabe?
Ele vigia a
gente, faz plantão de 24 horas! Vocês não sabem o que é chegar em casa às
23:30, com a rua deserta, e do nada aparecer um velho correndo desesperado na
sua direção. É uma sensação horrível.
Quando eu
estava trabalhando, já dava de cara com ele logo de manhã ao abrir o portão.
Sabe aquelas caixas surpresas dos desenhos que você abre e pula um palhaço ou
uma cobra para te assustar? É quase a mesma coisa. De certa forma isso
influenciou para que eu saísse do meu emprego. Vocês não sabem como é ruim
trabalhar com um “Acho que eu vou morrer hoje, não estou passando bem!” na
cabeça o dia inteiro.
Antigamente,
meu pai não dava bola para a gente. Tínhamos que correr atrás dele e, mesmo
assim, não adiantava nada. Bem, os conceitos de muitas pessoas mudaram com o
tempo. Agora, ele corre atrás da gente e a gente não dá bola para ele. Tentamos
evitá-lo. Ou melhor, eu tento evitá-lo; talvez seja bom eu falar só por
mim.
Não é
maldade. É questão de saúde mental.
Meu pai,
aparentemente, tinha muitos amigos. Qualquer pessoa que eu perguntava “quem era?”,
ele respondia: “É um amigo do pai!”. Onde estão esses amigos agora? Não eram
amigos, eram colegas de bar, conhecidos. Existe uma frase que gente que bebe
adora falar: “Nunca fiz amigos bebendo leite”. Mas e quando a cerveja acabar?
Quantos ainda serão seus amigos? Provavelmente, nenhum. Nem vão se lembrar de
você. Suspeito que foi o que aconteceu...
Meu pai
batia a própria cabeça na parede quando éramos crianças. Tomara que ele tenha
parado com isso e percebido que isto não o levaria muito longe, que dava muita
dor de cabeça. Ou que hoje em dia, use um capacete.
Ele chorava
igual a um nenê quando ficava sozinho comigo. Eu tinha 9 anos e lembro muito
bem disso. Isto acontecia de manhãzinha antes de eu ir para a escola. E a minha
cabeça entrava em parafuso.
Então, é
isso. Pode falar o que quiser. A sua opinião é muito importante para você
mesmo. Ela é sua, fique com ela. Não me encha o saco!
Cada um
sabe qual caminho que quer seguir: o certo ou o errado. Cabe a cada um de nós
notarmos a tempo que escolhemos o rumo errado e nos redirecionarmos para o
correto. Porque vai chegar um momento em que não terá como voltar. E daí em
diante, será um caminho árduo e solitário.
Por isso,
afirmo que meu pai é um exemplo a não seguir.
Eduardo
Franciskolwisk
P.S.: Este
tempo foi escrito há muitos anos. Então, quem costuma ler o blog pode se
confundir um pouco. Hoje, tenho 34 anos e não mais 26. Pensem nesta postagem
como uma fenda no tempo. Talvez, a primeira de muitas por aqui. Textos que
escrevi e não publiquei ou que comecei a escrever e não terminei.