Quando
eu era criança, uns 9 ou 10 anos, estudava em uma escola estadual. Lá as
crianças tinham o hábito de levar produtos químicos e buchinhas para limparem
suas carteiras antes de começar a aula.
Então, eu entrei na onda e comecei a levar meu kit limpeza de carteira. Tinha bucha, um frasco antigo de desodorante, daqueles de espirrar, com produtos de limpeza e um pano para secar. Às vezes o que tinha dentro do frasco de desodorante era álcool e às vezes, detergente. Este kit sempre ficava na minha mochila.
Um dia, eu estava brincando no quintal e vi uma formigona. Sim, das grandes. Fiquei com medo dela me morder porque um dia uma formiga gigante me picou e doeu muito. Aí, eu não queria repetir a experiência, então, resolvi matar ela. Eu queria matar ela, mas eu precisava ficar a uma boa distância dela para não correr o risco dela me pegar de jeito e de me imobilizar.
Foi aí que eu me lembrei do meu frasco de desodorante que tinha álcool e resolvi que seria uma boa ideia queimar ela viva. Fui até a cozinha como quem não queria nada e surrupiei uma caixa de fósforos. Com tudo o que eu precisava em mãos, fui à caça à formiga. Joguei álcool, acendi o fósforo, taquei fogo nela e vi ela queimar até a morte.
Eu gostei muito desta ideia, por isso sempre que eu achava uma formiga grande, ia correndo pegar meu kit incendiário, quero dizer, meu kit de limpar carteiras escolares. Aí, eu fazia da mesma forma, jogava álcool nela e depois acendia um fósforo. E ela queimava.
Fiz isto até não ter mais nenhuma formiga grande no meu quintal.
Me lembro do dia em que eu avistei uma formiga bem diferente das outras, ela era maior ainda. Aí, pus fogo nela também. Depois disso, as formigas sumiram. Hoje, fico imaginando que podia ser a formiga rainha e que eu matava tanta formiga que não deu tempo dela procriar outras e teve que ela mesma ir buscar comida. Aí, ela me encontrou. Desde então, as formigas grandes do meu quintal foram oficialmente extintas. Nunca mais encontrei nenhuma.
Hoje, eu penso no absurdo que era: uma criança com álcool e fósforo na mão. Penso em como eu poderia ter me machucado ou colocado fogo na casa inteira, com ou sem intenção.
Penso também que psicopatas assassinos judiavam de animais quando crianças e os matavam como se a vida deles não valesse nada. Aí eu me pergunto se sou meio psicopata por isto, mas acho que não. Eu só matava formigas e mato até hoje. Mato também baratas envenenadas toda semana e se eu fosse psicopata, uma sociedade inteira seria psicopata juntamente comigo porque há inúmeros supermercados que vendem inseticidas sem nenhuma piedade destes animais. Nem os protetores dos animais vai contra a matança de insetos.
Eu me lembro até hoje de imaginar que as formigas viviam como os humanos de forma secreta e por isso, quando eu matava uma formiga, minha foto aparecia nos noticiários de TV do “Canal das Formigas” e uma formiga repórter anunciava que eu estava matando todas elas e que era para ficarem longe de mim.
Sei lá, mas vejo uma certa semelhança dos meus atos infantis com a Igreja Católica. É o mesmo lema: se incomoda, basta queimar vivo na fogueira.
Eduardo Franciskolwisk
Então, eu entrei na onda e comecei a levar meu kit limpeza de carteira. Tinha bucha, um frasco antigo de desodorante, daqueles de espirrar, com produtos de limpeza e um pano para secar. Às vezes o que tinha dentro do frasco de desodorante era álcool e às vezes, detergente. Este kit sempre ficava na minha mochila.
Um dia, eu estava brincando no quintal e vi uma formigona. Sim, das grandes. Fiquei com medo dela me morder porque um dia uma formiga gigante me picou e doeu muito. Aí, eu não queria repetir a experiência, então, resolvi matar ela. Eu queria matar ela, mas eu precisava ficar a uma boa distância dela para não correr o risco dela me pegar de jeito e de me imobilizar.
Foi aí que eu me lembrei do meu frasco de desodorante que tinha álcool e resolvi que seria uma boa ideia queimar ela viva. Fui até a cozinha como quem não queria nada e surrupiei uma caixa de fósforos. Com tudo o que eu precisava em mãos, fui à caça à formiga. Joguei álcool, acendi o fósforo, taquei fogo nela e vi ela queimar até a morte.
Eu gostei muito desta ideia, por isso sempre que eu achava uma formiga grande, ia correndo pegar meu kit incendiário, quero dizer, meu kit de limpar carteiras escolares. Aí, eu fazia da mesma forma, jogava álcool nela e depois acendia um fósforo. E ela queimava.
Fiz isto até não ter mais nenhuma formiga grande no meu quintal.
Me lembro do dia em que eu avistei uma formiga bem diferente das outras, ela era maior ainda. Aí, pus fogo nela também. Depois disso, as formigas sumiram. Hoje, fico imaginando que podia ser a formiga rainha e que eu matava tanta formiga que não deu tempo dela procriar outras e teve que ela mesma ir buscar comida. Aí, ela me encontrou. Desde então, as formigas grandes do meu quintal foram oficialmente extintas. Nunca mais encontrei nenhuma.
Hoje, eu penso no absurdo que era: uma criança com álcool e fósforo na mão. Penso em como eu poderia ter me machucado ou colocado fogo na casa inteira, com ou sem intenção.
Penso também que psicopatas assassinos judiavam de animais quando crianças e os matavam como se a vida deles não valesse nada. Aí eu me pergunto se sou meio psicopata por isto, mas acho que não. Eu só matava formigas e mato até hoje. Mato também baratas envenenadas toda semana e se eu fosse psicopata, uma sociedade inteira seria psicopata juntamente comigo porque há inúmeros supermercados que vendem inseticidas sem nenhuma piedade destes animais. Nem os protetores dos animais vai contra a matança de insetos.
Eu me lembro até hoje de imaginar que as formigas viviam como os humanos de forma secreta e por isso, quando eu matava uma formiga, minha foto aparecia nos noticiários de TV do “Canal das Formigas” e uma formiga repórter anunciava que eu estava matando todas elas e que era para ficarem longe de mim.
Sei lá, mas vejo uma certa semelhança dos meus atos infantis com a Igreja Católica. É o mesmo lema: se incomoda, basta queimar vivo na fogueira.
Eduardo Franciskolwisk