Tardou,
mas não falhou: fui contaminado pelo vírus mortal da COVID-19. E é isso... Vim
me despedir do mundo.
Adeus,
mundo cruel!
Cof,
cof, cof.
Neste
momento, minha língua sai um pouco para fora da boca e minha cabeça cai de lado
em cima do ombro. Empacoto, igualzinho o Rei Sapo em Shrek.
Agora,
deixando de drama poético, vamos ao drama da vida real.
********
Estamos
numa época fria do ano, inverno. Embora no Brasil não tenhamos frio de verdade,
eu sinto muito frio de verdade. E como no mundo ninguém liga para ninguém, o ar
condicionado do meu trabalho fica ligado o dia inteiro e com o ar gelado
batendo em mim. Eu fico de blusa o tempo todo, seja no inverno, seja no verão.
Sou o louco da blusa.
Eu
era o louco da blusa quando entrei neste trabalho, depois me mudaram de lugar e
isto parou. Agora, me mudaram de lugar de novo e esta porra de eu ter que ficar
passando frio voltou. Mudanças do setor público que acontecem sem nenhum
planejamento ou pensamento a longo prazo: coisa básica que fode o Brasil desde
sempre. Ninguém liga.
Agora,
então, eu passo frio e estou sofrendo com isto. Mas ninguém que saber. Foda-se.
Porém, estou ficando muito doente, com garganta inflamada, tosse, sinusite e esta
porra toda. Tenho certeza que ficar assim por muito tempo diminuiu a minha
imunidade e por isto eu peguei COVID-19.
A
cereja do bolo é que eu tirei 10 dias de férias mais 1 dia de abonada. Meu
último dia de trabalho foi quinta e na sexta de manhã acordei me sentindo mal,
com a sensação de que eu estava com febre. Pobre é uma beleza. Trabalha o ano
todo e quando pega férias ainda fica doente. Isto sim é um drama de vida real.
Com tantos dias para morrer no ano, a doença mortal chega bem nas férias.
Levantei
e nem pensei em COVID. Amaldiçoei o ar-condicionado e as pessoas que ligam ele
em “modo nevar” no inverno. Peguei o termômetro para ver se eu estava com
febre: 37,5ºC. Não era febre, mas estava no caminho. Então, já tomei remédio
para gripe, dor de garganta, gonorreia e câncer. Dei uma melhorada com o
decorrer do dia.
No
sábado, acordei melhor, mas o nariz estava escorrendo. Limpei a casa com uma
invenção muito genial da minha parte: coloquei um pedaço de papel higiênico no
nariz. Simples e eficaz. Ficou parecendo que eu estava com o piercing do Bebop
das Tartarugas Ninjas, mas quem liga para isto?
No domingo,
dei uma piorada e saí para comprar vitaminas, spray de nariz e outras drogas
básicas como cocaína e metanfetamina. Não se esqueçam, crianças, tudo é válido
na guerra contra os ares-condicionados. Minha mãe começou a tossir e a achar
que tinha ficado resfriada.
Na
segunda e na terça, eu fiz a minha pequena e modesta contribuição na
transmissão de COVID pela cidade.
Na
quarta-feira, acordei umas 11 horas e logo minha mãe chegou com a notícia: ela
estava com COVID-19. Achei que ela estava zoando porque ela tinha saído para a
manicure. Não conheço muitas manicures que fazem teste de COVID. Mas foi mais
ou menos isto o que aconteceu. Minha mãe estava tossindo muito e a manicure
colocou na cabeça dela de fazer o teste de COVID. Ela foi na Unimed e fez o
teste rapidinho. O resultado foi positivo. Eu não acreditei.
Era
muito provável que eu também estivesse, mas eu só estava sentindo dor de
garganta e tosse.
Fiquei
pensando em ir ou não ao posto de saúde. Ao contrário da minha mãe, sou pobre e
não tenho mais plano de saúde. Só tenho o SUS, o sistema de saúde que todos
políticos brasileiros deveriam ser obrigados a utilizar enquanto exercem
mandatos eletivos.
Cheguei
às 18 horas. Mandaram os suspeito de COVID ficarem numa tenda lá fora do posto
de saúde, no frio e no vento do mês de julho. Achei esquisito, fazia e não
fazia sentido ao mesmo tempo.
Na
hora do exame, não senti nada quando o swab entrou nas duas narinas para
retirar amostras. Não senti nem vontade de espirrar. Este foi meu segundo exame
feito com o swab no nariz. Da primeira vez, eu senti um incômodo forte e meus
olhos lacrimejaram bastante. Provavelmente, a culpada foi a técnica de
enfermagem que foi a mesma que me aplicou uma injeção que deixou meu bumbum
roxo e com um calombo duro por 1 mês.
Lá
pelas 20 horas, o exame ficou pronto. E aquelas pessoas que estavam passando
frio na tenda, foram divididas em 2: quem ganhava folhinha e ia embora e quem
ganhava folhinha e ia para uma sala. Eu não ganhei folhinha e fui para a sala.
Saí procurando minha folhinha, mas não estava pronta. Não tinha problema, mandaram
eu voltar para a salinha. A salinha dos infectados. Lá era o meu lugar.
Aí,
passei pelo médico. Ele me examinou, fez perguntas e me deixou na sala por um
bom tempo sozinho. Depois, já voltou com o atestado médico de 5 dias e com a
receita médica: 4 medicamentos.
Um
atestado médico de 5 dias para uma pessoas de férias. Pior que isto é um
atestado médico de 5 dias para uma aposentada, caso da minha mãe. Mas a médica
que atendeu ela perguntou se precisava, no meu caso, o médico não perguntou
nada.
Os
medicamentos que o médico me receitou foram:
-
Azitromicina 500 mg – 1 Comp ao dia por 5 dias.
-
Prednisona 20 mg - 1 Comp ao dia por 5 dias.
-
Dipirona 500 mg - 1 Comp de 6/6 horas, se febre ou dor.
-
Celestamine Xarope – Tomar 10 mL de 12/12 horas por 5 dias.
Destes
eu só tive que comprar o Celestamine, que custava mais de 50 reais. Mas comprei
o genérico (Maleato de Dexclorfeniramina + Betametasona) e paguei R$ 12,90. Os
outros remédios eu ganhei no postinho mesmo.
Agora,
já terminei os remédios e minha garganta inflamou um pouco e minha tosse
continua igual ou um pouco pior do que antes. Amanhã é meu último dia de
férias.
Eduardo
Franciskolwisk