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quarta-feira, 21 de março de 2018

Eu estarei lá pra você

I'll be there for you ... when the rain starts to pour.
I'll be there for you ... like I've been there before.
I'll be there for you... cause you're there for me, too.
(Refrão da música tema de Friends:
The Rembrandts - I'll be there for you)

Eu estarei lá pra você, quando a chuva começar a cair.
Eu estarei lá pra você, como sempre estive antes.
Eu estarei lá pra você, porque você estará lá pra mim também.




Eu sou assim: me disponho a estar lá nos bons e nos maus momentos. Mas só para aqueles que estiverem lá para mim também. É uma estrada de mão dupla. Vai e volta. Nada de só ir ou só voltar, não é justo.

Esse negócio de só ser chamado nos maus momentos não me agrada. Não é muito a minha praia. Nunca foi e nunca escondi isto. Por que se lembrariam de mim no momento da dor se esqueceram nos momentos de felicidade?

Desta forma, com o passar do tempo passei a escolher racionalmente as reações que deveria ter diante dos acontecimentos. Por que eu iria no velório da sua mãe se não fui convidado para o seu casamento? Por que nesta semana você quer me encontrar se em todas as outras você não deu nem sinal de vida? Por que eu te trataria bem se você sempre me tratou mal?

Conheço e concordo com um ditado que diz: “A vida é como um eco, se você não gosta do que recebe presta atenção no que emite”. Sendo assim, não espere de mim o que eu não tive de você.

Acredito mesmo que as pessoas colhem em vida o que plantaram. Inclusive eu.
  
Meu pai nunca ligou para a gente. Eu e minhas irmãs praticamente não tivemos pai. Ele nunca fez algo realmente importante para nós. A única coisa que ele fez e que ficou para o resto de nossas vidas foi nos traumatizar! Bem, talvez sobre isso eu não possa falar em nome das minhas irmãs, mas no meu caso eu garanto: trauma.

Por infelicidade do destino ou por intenção de alguém, a minha casa fica em frente à dele. Isso é que é “sorte” (e eu ainda insisto em jogar na Mega-Sena).

Ele me irrita até hoje. Quando eu saio de casa para ir ao trabalho, lá está ele na porta de casa colocando mais minhocas na minha já demente cabeça. “Eu não tô passando bem, quero te dar a chave de casa pra caso eu morrer, vocês entrarem lá na casa.”

Meu pai fede. O chão da casa dele era amarelo, agora é marrom por causa da sujeira impregnada. Ele manca quando vem, desesperadamente, falar com a gente. Mas, incrivelmente, não manca quando vai ou volta do bar. Sacaram porque de certa forma eu não sou muito chegado a “barzinhos”? Até hoje tenho o preconceito de que quem vai a barzinhos ou bebe frequentemente não vale muito ou não presta mesmo.

Um dia, uma amiga da minha tia foi na casa dela dizer que eu e minhas irmãs estávamos maltratando meu pai. Calúnia! Só conversamos o básico com ele, nem dá tempo de maltratar. Nós o evitamos ao máximo. Bom, mas se ela está tão interessada no assunto, que dê palpites, mas também ajude a pagar o plano de saúde dele.

Ela disse também que está todo mundo falando sobre isto na cidade. Nós “realmente” acreditamos nisto e estamos “comovidos”. Faremos um pronunciamento em rede nacional para escancarar que somos pessoas ruins e que vamos arder no inferno, enquanto o santo pai vai para o altar ser canonizado na igreja dos hipócritas.

Filha, a cidade está pouco se lixando para os nossos problemas! Até eu não estou nem aí para os meus problemas... Aliás, esta cidade nem sabe que minhas irmãs têm um irmão - que no caso sou eu, lógico. E eu sou muito feliz com isso. Elas são elite e eu sou ralé. Enquanto a elite participava de festas, não havia irmão. Na hora de maltratar o pai, o irmão existia. Ou seja, lembram-se de mim para encher o saco, mas não para aproveitar a vida.

Acho que uma pessoa pode estar errada. Três, já fica mais difícil. Provavelmente, não somos nós os errados.

O duro é que eu não conheço essa mulher. Senão, ia mandar ela tomar no cunudinho. Gente que eu não sabia da existência falando mal de mim me dá um medo enorme. Está aí um pouco que pode ter influenciado na minha fobia social.

Eu não sou totalmente mau e não sou totalmente bom. Ninguém é. Eu também não sou totalmente bobo. A tentativa da senhora era que tivéssemos uma relação de extrema felicidade e forçação de barra com o meu pai, dando para ele a atenção que ele nunca nos deu.

Diante de tal proposta absurdamente injusta e indecente, só posso responder:

— Não, obrigado!

A Rita Lee me ensinou a ser educado numa música: “Diga não às drogas. Mas seja educado, diga não, obrigado!”

Por fim, esteja sempre lá para as pessoas, mas só se elas estiverem lá para você também.

Eduardo Franciskolwisk
        
P.S.: Esta é mais uma postagem vinda de uma fenda no tempo. Este texto estava incompleto. Terminei recentemente tentando manter a ideia original.

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