Há uns 2 meses,
aconteceu uma coisa surreal comigo. Na hora eu não acreditei e até hoje eu me
pergunto se aquilo aconteceu mesmo. O título da postagem é devido ao filme de
mesmo nome. Coloquei este título porque foi a primeira coisa que veio na minha
mente depois que aconteceu o que vou contar.
Um dia, um vizinho
comentou com a minha mãe:
— Não pago mais TV por
assinatura. Comprei um aparelhinho que pega todos os canais sem pagar nada.
Era o famoso SkyGato
ou Gato Net.
Ela me contou e eu
falei que achava melhor continuar com a TV por assinatura oficial.
Um tempo depois, minha
mãe reclamou que a TV a cabo estava muito cara e que queria parar de assinar.
Eu falei “OK, liga lá e cancela. Depois, a gente pergunta para o vizinho onde
ele comprou o aparelhinho e pede para ele mostrar na casa dele como funciona”.
Então, ela cancelou a
TV e na primeira vez que vi o vizinho, pedi para ele me mostrar o SkyGato. Na
hora ele me chamou para entrar e ver como era o aparelho e a qualidade da
imagem. Na sala, a esposa dele estava assistindo a um filme em uma espécie de
Netflix. A qualidade parecia boa, mas eu queria ver mesmo eram os canais da TV.
Quais eram, quantos tinham, se pegavam certinho, etc.
E é aqui que começa o
meu problema.
Quando o vizinho
colocou no programa em que se assistia a TV a cabo pirata entrou em um canal
adulto (leia-se canal pornô) que pediu uma senha para liberar o filme. Então,
ele comentou:
— O aparelho está com
este problema. Toda vez que eu entro, entra neste canal. Não sei o que está
acontecendo.
A esposa me olhou e
disse ironicamente:
— Ele não sabe o que
está acontecendo. Não é ele que põe neste canal.
Aí, eu já fiquei meio
sem graça. Percebi que não tinha como mudar de canal sem ter que colocar a
senha. Para não piorar a situação, eu falei:
— Se hoje está com
problema, outro dia vocês me mostram como funciona. Quando tiver funcionando
vocês me avisam.
E fui para casa já com
uma má impressão do aparelho. Vi pouco e o que tinha visto não me agradou. Sem
contar que achei o aparelho caro para algo que não tinha nenhuma garantia e que
poderia parar de funcionar a qualquer momento.
Não me lembro quantos
dias se passaram. Mas não foram muitos. Eu estava dormindo e o interfone tocou.
Xinguei muito mentalmente. Levantei todo sonolento para atender o maldito ser
que me acordava em um domingo de manhã.
— Quem é?
— É o vizinho. Esse
carro que está aqui na frente é de alguém que está aí? O farol está ligado.
Meio dormindo, meio
acordado, coloquei uma bermuda e fui lá fora ver que carro era. Não tinha
ninguém em casa além do normal, mesmo assim eu fui. Vai que alguma irmã minha deixou
o carro aqui e saiu? Como eu estava dormindo fiquei na dúvida.
Eu não fazia ideia de
quem era aquele carro e disse isto para o vizinho. Aproveitei que ele estava
ali e perguntei se ele podia mostrar a TV naquela hora. Ele falou que podia. Eu
fui, mesmo não tendo acordado direito.
E é aqui que acontece
o problemão.
Mas antes tenho que
voltar no tempo. Sei lá quanto, vamos voltar 1 ano e meio, mais ou menos.
Sempre que eu entrava
ou saía de casa e via algum vizinho antigo, cumprimentava e, às vezes, conversava
um pouco bobagens do dia a dia. Sabe aqueles assuntos “que calorzão, hein!”. No
entanto, às vezes o assunto se estendia um pouco.
Comecei a ter um
problema com este vizinho a ponto de evitar conversas que passassem do “oi” e
“tchau”. O problema é que ele começou a falar coisas que por tabela insinuavam
que eu era gay. Perguntas do tipo:
— Você não vai casar?
— Você não vai namorar?
— Você já namorou
mulher? – captaram a insinuação?
E daqui para frente foi
só ladeira abaixo. As perguntas foram ficando cada vez mais diretas e
indiscretas.
Eu sempre me
explicava, tentando falar que eu não era gay, mas que esta coisa de
relacionamento não era para mim. As perguntas dele me incomodavam e eu
respondia porque me incomodava o fato dele achar que eu era gay. E não era só
ele. Ao longo da minha vida, todo mundo falava que eu era gay. Sempre. Não sei
certamente o que faz as pessoas pensarem isto de mim, mas ultimamente tenho
desconfiado de uma coisa: sorrir demais e ser educado.
Homem não pode nem
sorrir nem ser educado nem tentar ser legal. Homem que é homem fica de cara
fechada, não dá bom dia e nem ajuda ninguém. Homem se impõe pela força e
assedia de todas as formas. O resto é tudo gay.
As perguntas, porém,
chegaram no ponto do absurdo. A partir deste ponto eu passei a evitar as
conversas com ele e não respondia diretamente, só enrolava e mudava de assunto.
Era coisas bem íntima e pessoais, mas eu relevava porque o cara era velho e
podia estar ficando gagá, tipo o Silvio Santos. Quando se fica velho é normal
perder o senso de absurdo.
As conversas eram
muito loucas e teve um dia que eu me matei de dar risada quando entrei em casa.
Eu estava com o meu cachorro no colo e ele ficou excitado, com o pinto duro. O
vizinho viu e me perguntou:
— Você já deu a bunda
pro seu cachorro?
Eu comecei a rir,
achando que ele estava brincando comigo, me zoando e respondi:
— Não! Que isso? Você
está louco? – mas achei engraçado e estranho e continuei rindo sem acreditar na
pergunta.
Foi quando ele
comentou com a cara séria:
— Pois eu tinha um
cachorrinho e ele morreu. Que falta me faz aquele cachorrinho!
Aí, eu segurei a
risada e entrei em casa pensando “Será que ele tem noção do que ele falou?”. O
que ele disse ali é que ele dava a bunda para o cachorro. E eu me matei de rir
com isto.
Então, voltamos ao dia
em que o vizinho ia me mostrar a SkyGato. Como eu estava evitando ele, fazia
tempo que não tinha as conversas invasivas e nem me lembrava disto. Eu fui até
lá para ver como funcionava a TV. Só isto.
Entramos. Era um
domingo de manhã, a mulher dele tinha ido à missa. Ele ligou a TV normalmente e
foi mostrando os canais. A maioria não pegava ou tinha a imagem ruim. Eu
perguntava os canais e ele mostrava. Chegou uma hora que ele colocou no canal
pornô e eu sem graça perguntava “E o canal tal? Vê se pega.” para ele mudar de
canal, mas ele não mudou. Ele começou a fazer perguntas bem adolescentes tipo
“O seu pau também fica duro quando você vê filme pornô?”. Respondi que “sim,
lógico” sem graça, achando que ele estava insinuando mais uma vez que eu era
gay porque eu estava sem graça por causa do filme que estava passando. E eu
sempre pedindo para colocar no canal tal para ver se pegava. Foi quando ele
falou “Olha aqui pra mim” e eu olhei. Ele estava com o pinto para fora da
calça.
Ali eu entendi duas
coisas. A primeira coisa que entendi foi que o gay não era eu. A segunda coisa foi
que eu tinha me metido numa fria e não fazia a menor ideia de como sairia
daquela situação.
Eu não acreditava no
que estava acontecendo. Não acredito até hoje que isto aconteceu. Foi surreal.
Na hora que ele
mostrou o pinto eu olhei para ele e falei “Que isso? Não, não tem nada a ver.
Para com isso.” Aí, eu fingi que nada tinha acontecido para tentar sair daquela
situação. E continuava pedindo “Vê se tem tal canal”.
Eu fingi que não
aconteceu, mas aconteceu. E eu pensei em um monte de coisas em um curto espaço
de tempo. Lembro que minha boca secou. Minha boca nunca secou tão rápido quando
neste dia. Na hora eu pensei em bater no vizinho gay. Seria bem idiota bater em
alguém por ser gay, mas o motivo não era esse. O motivo era que eu senti que
tinha caído numa armadilha. Aí, eu pensei: se eu bato nele vou ter que dar
satisfação do porquê para outras pessoas e contar o que aconteceu aqui agora
não será nada legal. Então decidi só agredir fisicamente se ele me encostasse.
Ele não encostou em mim em nenhum momento, desde que eu cheguei até a hora que
eu fui embora.
Bater nunca foi a
primeira opção, mas eu bateria para me defender. E eu ficava pensando como vou
explicar que bati no vizinho velho, que me conhece desde criança, que tem
filhos e netos. Vou falar o quê? Que bati em alguém mais fraco que eu porque
ele me mostrou o pipi dele? Vão falar o que de mim? Que sou gay ou agressor de
idoso?
Depois que eu pensei
na opção de bater nele, eu me acalmei. Eu estava na casa dele, mas era mais
forte que ele.
Fingi que nada tinha
acontecido por um tempinho, mas eu queria ir embora. Queria sair dali o mais
rápido possível. O portão estava trancado e ele não abria. Acho que ele pensou
que eu fosse chupar o pinto dele, comer ele ou ser comido. Não sei o que ele
pensou, mas deu errado. Então, acho que ele ficou com medo de eu sair contando
pra todo mundo como eu estou fazendo agora, mas eu não fiz isto. Não
contei para todo mundo, mas achei melhor contar para algumas pessoas chaves
para me garantir. Havia a possibilidade de que ele espalhasse uma outra
história sobre o que aconteceu, então, me preveni e contei para 2 pessoas. E agora
para vocês.
Antes de abrir o
portão, ele tentou me induzir a mudar de ideia argumentando que muitos homens
tem relações com outro homem e isto fica só entre eles. Ou seja, eu podia ficar
despreocupado que era um segredo. Ele também sugeriu que eu não contasse nada
para ninguém. Claro que eu concordei. Fiquei impressionado em como ele dizia
coisas sem falar exatamente as palavras do que ele queria dizer. Coisa que eu
nunca fui bom em fazer. Sempre fui muito direto e claro. Pago caro por isto.
Eu queria sair dali e
ele voltou a fazer perguntas da minha vida íntima e eu menti bastante nas
respostas. E devolvia as perguntas pra ele. Ele pedia para eu falar baixo
porque alguém na rua poderia ouvir. Mas era um pedido meio ordenado, meio
exigido, meio que me intimidando.
Da conversa como um
todo, ficou muito claro para mim que ele é um gay enrustido, que casou com uma
mulher porque a sociedade mandou e que teve filhos porque é assim que funciona.
Mais tarde, em casa, pensei
em como deve ser triste viver uma vida inteira baseada em uma mentira. Pois é
isso que a vida dele é e ele não tem coragem de jogar tudo para o alto e
assumir o que é.
Depois que isto
aconteceu, tomei a decisão de não falar mais com ele. Nunca mais. Eu me senti
desrespeitado e não quero correr o risco disto acontecer novamente. Talvez,
assim ele entenda que não gostei nadinha do que aconteceu.
Pensando em toda esta
história que aconteceu comigo, veio à minha mente o filme Beleza Americana.
Nele há um militar que odeia homossexuais e fica puto da vida quando desconfia
que o vizinho está tendo um caso com o seu filho. Num dia de crise existencial,
o militar vai até a casa do vizinho e o beija na boca. Diante da rejeição e da
explicação de que ele estava enganado, que não o vizinho não era gay, ele volta
para casa pega uma arma e mata o vizinho. O militar não podia correr o risco de
que os outros soubessem que ele era exatamente aquilo que sempre odiou. A vida
do militar era uma mentira. E ele perdeu o chão quando descobriu isto.
Pode parecer bobagem,
mas eu fiquei com medo de acontecer comigo algo parecido ao filme. Alguma
vingança por ter rejeitado a pessoa e saber de um segredo que outras pessoas
não poderiam saber.
Então, se algum dia
alguém me matar, lembrem desta história.
Eduardo Franciskolwisk