Tarde
O
Santuário de Fátima é um lugar religioso. Então, já vou logo avisando: eu não
sou muito religioso. Por isso, pode ser que você não goste do que vou escrever aqui.
A palavra santuário quer dizer lugar santo,
consagrado por uma religião. Para sabermos o motivo deste lugar ser sagrado,
precisamos conhecer um pouco da história que aconteceu na cidade de Fátima.
Em 1917, Nossa Senhora de Fátima apareceu
pela primeira vez para três crianças no dia 13 de maio enquanto eles cuidavam
de um pequeno rebanho. Os nomes das crianças eram Lúcia (10 anos), Francisco (9
anos) e Jacinta (7 anos). Eles ficaram conhecidos como “Pastorinhos de Fátima”.
Outras 5 aparições aconteceram em Fátima nos meses seguintes sempre no dia 13,
com exceção do mês de agosto em que a aparição aconteceu no dia 19. A última
aparição, em 13 de outubro de 1917, foi diante de 70 mil pessoas.
No local exato onde as aparições ocorreram
foi construída uma capela que recebeu o nome de “Capelinha das Aparições”. A
partir daí, o lugar cresceu até ficar do tamanho que é hoje.
O Santuário de Fátima é enorme. E só isso.
Ele só tem tamanho, só tem espaço. Não é bonito e nem surpreendente. De um lado
fica a igreja mais antiga, a Basílica de Nossa Senhora do Rosário de Fátima, e
do lado oposto fica a igreja mais nova, a Basílica da Santíssima Trindade.
O exterior da Basílica de Nossa Senhora do
Rosário de Fátima é bonito, mas o interior deixa a desejar. Para se ter uma
ideia, o interior da catedral da minha cidade, no interior do estado de São
Paulo, ganha de 10 a 0 desta Basílica. É muito sem graça para ser uma Basílica,
não tem vida, não parece muito uma igreja. O que salva um pouquinho são os
vitrais e os 14 painéis laterais que representam os mistérios do Rosário. O 15º
mistério, a coroação da Santíssima Virgem, está representado no altar central,
quase imperceptível.
Interior da Basílica de Nossa Senhora do Rosário de Fátima.
Borocoxô. Na minha opinião, é feio, sem graça e sem vida.
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Altar principal da Basílica de Nossa Senhora do Rosário de Fátima |
Painel com 1 mistério: Crucificação de Jesus |
No altar principal está o 15º mistério:
Coroação da Santíssima Virgem.
Mas como é tudo branco, passa um pouco despercebido.
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Nesta Basílica estão enterrados os corpos
das 3 crianças: Lúcia, Francisco e Jacinta. Francisco e Jacinta morreram ainda
crianças e foram canonizados em 13 de maio de 2017, ou seja, são considerados
Santos. Lúcia ainda não é santa, faleceu recentemente já adulta em 2005, mas eu
tenho certeza que um dia ela será canonizada. Ela está diretamente ligada aos 3
segredos de Fátima. Dizem que estes segredos eram profecias apocalípticas que
se tornaram realidade. Eu adoraria escrever sobre eles, mas eu não entendi nada
do que li. Não enxerguei nem segredos e nem profecias.
A outra igreja, mais nova, é a Basílica da
Santíssima Trindade. Ela não tem cara de igreja católica, nem por dentro nem
por fora. Está mais para uma igreja evangélica. Quase não tem enfeite nenhum.
Só consegui ver uma cruz com Jesus pregado, mais nada. Porém, o que tem de
simples, tem de tamanho: possui 8.633 lugares. Além disso, seu formato é
circular.
O lugar mais procurado é a Capelinha das
Aparições. Foi neste exato local em que a Virgem Maria apareceu para os 3 pastorzinhos.
Eu não consegui nem chegar perto da imagem de tanta gente que tinha, além das
barreiras físicas. Existem 2 muros pequenos que impedem as pessoas de chegar
muito perto da imagem. Manter distância deve fundamental para o povão não
correr o risco de ser abençoado e, assim, ter motivos para voltar ao Santuário.
Do lado da Capelinha da Aparições está uma
árvore, uma azinheira. Ela tem mais de 100 anos e foi testemunha das aparições
em 1917. Não foi sobre esta árvore que Nossa Senhora apareceu para as crianças,
esta árvore simplesmente estava lá do lado e por isto sobreviveu. A azinheira
em que houve a aparição foi levada, aos poucos, pelos peregrinos. Cada um que
ia lá arrancava um pedaço e levava para casa. Ou seja, mataram a árvore sagrada
por causa da própria religião. Os católicos sempre fazem isto: matam e destroem
em nome de Deus, embora, provavelmente, esta não fosse a Sua vontade.
Hoje, a azinheira que sobrou é cercada por
um muro com grades, além de uma cerca viva. É impossível pegar um pedaço dela.
Eu sei porque eu fui lá tentar arrancar uns galhinhos.
Tirando fotografias, pude perceber que em
alguns lugares no exterior da Basílica antiga existem pregos colocados de forma
quase imperceptível aos nossos olhos. Descobri que o nome destes “pregos” é
espícula. O motivo destas espículas é apenas um: espetar o bumbum do pássaro
que se sentar ali. Assim, ele vai embora e nunca mais volta.
Isto está em uma Igreja, na casa de Deus. E
aí eu pergunto: onde está Deus ao espetar o bumbum dos passarinhos? A estética
criada pelo homem vale mais que o bem-estar de um ser criado pelo divino? É
mais legal ter na fachada de uma igreja uma coroa de espinhos, como a de
Cristo, ou um ninho em que nasça a vida?
Por ser um Santuário, muitas pessoas vão
até o local para pagar promessas. Muitos deles acendem as velas que prometeram.
Há velas de todos os tamanhos, grossuras e preços. As pessoas exageram tanto
que há velas maiores que a própria pessoa.
Há um lugar no Santuário com vários
tamanhos de velas e com seus respectivos valores. Do lado das velas há um
buraco para depositarmos os valores das velas que levarmos. Apesar disso, tem
também um placa dizendo que “As velas expostas não se destinam à venda. O valor
expresso é indicativo e considerado como oferta.”.
Neste mesmo lugar das velas está a coisa
que eu mais gostei no Santuário de Fátima. É uma outra placa que diz:
“Não prometa velas altas.
Irmãos de todo o mundo
apelam para a nossa ajuda.
Converta parte das velas prometidas
em pão para os pobres.
A sua promessa fica cumprida.”
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Esta foi a coisa mais humana que eu vi no
Santuário. Incrivelmente, foi o único momento em que senti que Deus poderia
existir ali. Foi o que mais me tocou: uma mensagem inteligente pregada na
parede. Aquilo fazia sentido. E apesar disto, muitas pessoas estavam com as mão
lotadas de velas prontas para queimá-las de uma vez em uma enorme pira, como se
dissessem “Os pobres famintos que se comam.”.
Queimando no inferno ou visitando o Santuário de Fátima? |
Santuário de Fátima: o mais próximo que me senti do inferno |
Uma coisa que me impressionou bastante foi
que eu nunca me senti tão perto do inferno quanto no Santuário de Fátima. Lá
tem um lugar para acender as velas, mas são tantas velas, tantas velas que o
Santuário pede para não acendê-las e sim jogá-las na pira. É uma fogueira
gigante. E que lugar quente. Aquele fogo todo junto com o calor me lembrou do
inferno. Só pode ser intencional. A Igreja Católica faz estas pegadinhas:
sempre te lembra que se você desobedecê-la ou contrariá-la, queimará no mármore
do inferno.
Um episódio engraçado foi um homem que foi
pagar promessa de joelhos. Só que ele estava de joelheiras. Pode isso, Deus? Se
puder eu vou fazer promessa dizendo que vou andar da minha casa até Aparecida
do Norte. E vou até lá andando de carro.
O que está acontecendo com os penitentes?
Não se faz mais pagadores de promessas como antigamente. Cadê os bons
samaritanos dispostos a sangrarem por Jesus? Eu garanto para vocês, se este
mesmo homem que estava pagando promessa de joelhos fosse dar um joelhada no seu
saco, pode ter certeza, ele não estaria usando uma joelheira!
Coroa Rica de Nossa Senhora de Fátima
Pode ser vista no Museu Permanente,
no edifício da Reitoria do Santuário
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Eu esperava ver a Coroa Rica de Nossa
Senhora de Fátima, é uma coroa que pesa 1,2 Kg de ouro e que tem 2.992 pedras
preciosas. Não consegui. Procurei, mas não achei. Além de ser uma preciosidade
da joalheira portuguesa do século XX, a coroa contém a bala que atingiu o papa
João Paulo II no atentando contra sua vida em 1981. Por coincidência do destino
ou milagre, o calibre da bala encaixou-se perfeitamente no local onde ela foi colocada
na coroa.
Esta preciosa coroa é colocada na imagem de
Nossa Senhora, que fica na Capelinha das Aparições, em datas solenes. Nos dias
normais, a coroa que fica na imagem é feita de prata dourada.
Mandei e-mail para o Santuário de Fátima,
solicitando que me informassem o local em que está localizada a Coroa Rica de
Nossa Senhora de Fátima e como chegar até lá, caso eu volte um dia. A irmã
Giustina respondeu que a coroa é encontrada no Museu Permanente do Santuário –
Exposição Fátima Luz e Paz, que fica Reitoria do Santuário (edifício ao lado
oposto da Capelinha das Aparições). O preço do ingresso é 2 €.
No Santuário de Fátima, é possível ver um
pedaço do Muro de Berlim. Uma curiosidade que eu não imaginava encontrar ali. O
Muro de Berlim foi levantado em 13 de agosto de 1961 e dividiu a cidade, a
Alemanha e, simbolicamente, o mundo em Ocidental/Capitalistas e
Oriental/Socialistas. O muro só foi derrubado 28 anos depois, em 09 de novembro
de 1989, tornando possível a reunificação da Alemanha em 1990.
Esta postagem sobre a viagem acaba por
aqui. A próxima será sobre a nossa breve passagem por Setúbal.
Eduardo Franciskolwisk
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