Nesta época de Natal
e Ano-Novo, sempre me lembro do conto “A Menina dos Fósforos”, mas neste ano eu
o reli ouvindo uma música que conheci alguns meses atrás. E me emocionei.
Espero que você também pegue uma toalha de banho e se emocione.
Eu adoro este conto.
Raramente eu posto
textos de outras pessoas. O último que me lembro foi um outro conto deste mesmo
autor que publico hoje, Hans Christian Andersen.
Leiam o conto abaixo
ouvindo a música “Circle - Edie Brickell & New Bohemians”. Abram o link a
seguir em outra aba e voltem para ler o conto aqui no blog. Fiquem repetindo a
música até terminarem de ler o conto. Link do YouTube:
Este é o meu presente
de Natal para vocês, meus leitores, os gatos-pingados que sobraram e que também
podem ser chamados de heróis da resistência.
Mensagem de Natal
Desejo que a chama do
Natal nunca se apague e nos ilumine e nos aqueça enquanto estivermos vivos aqui
na terra.
Desejo que neste
Natal tenhamos paz no coração e na mente. E que em 2025 consigamos ser felizes
na simplicidade e com o pouco que tivermos.
Desejo que as pessoas
que estão sozinhas se sintam acompanhadas por si mesmas. E que se sintam
confortadas em saber que há muitas outras pessoas nesta mesma situação.
Desejo que sintam a magia.
Sintam a magia de novo em você!
Feliz Natal e Feliz Ano-Novo!
Eduardo Franciskolwisk
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A Menina dos Fósforos
- Hans Christian Andersen
Fazia tanto frio! A
neve não parava de cair no leste europeu, e a gélida noite aproximava-se.
Aquela era a última noite de dezembro, véspera do dia de Ano Novo. Perdida no
meio do frio intenso e da escuridão uma pobre menina seguia pela rua afora, a
cabeça descoberta e os pés descalços. É certo que ao sair de casa trazia um par
de chinelos, mas estes não duraram muito tempo, porque eram uns chinelos que já
tinham pertencido à mãe, e ficavam-lhe tão grandes, pesados e encharcados de
neve que a menina os perdeu quando teve de atravessar a rua, correndo, para
fugir de um bonde. Um dos chinelos desapareceu no meio da neve, e o outro foi
apanhado por um garoto que o levou, pensando fazer dele um berço para a irmã
mais nova brincar.
Por isso, a menina
seguia com os pés descalços e já roxos de frio; levava no bolso dianteiro do
avental uma quantidade de fósforos, e estendia um maço deles a todos que
passavam, oferecendo: — Quer comprar fósforos bons e baratos? — Mas o dia lhe
tinha sido adverso. Ninguém comprara os fósforos, e, portanto, ela ainda não
conseguira ganhar um tostão sequer. Sentia fome e frio, e estava com a cara
pálida e as faces encovadas. Pobre criança! Os flocos de neve caíam-lhe sobre
os cabelos compridos e loiros, que se encaracolavam graciosamente em volta do
pescoço magrinho; mas ela nem pensava nos seus cabelos encaracolados. Através
das janelas, as luzes vivas e o cheiro delicioso da carne assada chegavam à
rua, porque era véspera de Ano Novo. Nisso, sim, é que ela pensava, o que lhe
enchia de água a boca.
Sentou-se no chão e
encolheu-se no canto de uma varanda. Sentia cada vez mais frio, mas não tinha
coragem de voltar para casa, porque não vendera um único maço de fósforos, e
não podia apresentar nem uma moeda; e o padrasto, malvado, seria capaz de lhe
bater. E afinal, em casa também não havia calor. A família morava numa
meia-água, um barraco, e o vento metia-se pelos buracos das telhas, apesar de
terem tapado com farrapos e palha as fendas maiores. Tinha as mãos quase
paralisadas com o frio. Ah, como o calorzinho de um fósforo aceso lhe faria
bem! Se tirasse um, um só palito, do maço, e o acendesse na parede para aquecer
os dedos...! Pegou num fósforo e: Fcht!, a chama espirrou e o fósforo começou a
queimar ! Parecia a chama quente e viva de uma vela, quando a menina a tapou
com a mão.
Mas, que luz era
aquela? A menina imaginou que estava sentada em frente de uma lareira cheia de
ferros rendilhados, com um guarda-fogo de cobre reluzente. O lume ardia com uma
chama tão intensa, e dava um calor tão bom...!
Mas, o que se passava? A menina estendia já os pés para se aquecer,
quando a chama se apagou e a lareira desapareceu. E viu que estava sentada
sobre a neve, com a ponta do fósforo queimado na mão.
Riscou outro fósforo,
que se acendeu e brilhou, e o lugar em que a luz batia na parede tornou-se
transparente como vidro. E a menina viu o interior de uma sala de jantar onde a
mesa estava coberta por uma toalha branca, resplandecente de louças delicadas,
e mesmo no meio da mesa havia um ganso assado, com recheio de ameixas e puré de
batatas, que fumegava, espalhando um cheiro apetitoso. Mas, que surpresa e que
alegria! De repente, o ganso saltou da travessa e rolou para o chão, com o
garfo e a faca espetados nas costas, até junto da menina. O fósforo apagou-se,
e a pobre menina só viu na sua frente a parede negra e fria.
Acendeu um terceiro
fósforo. Imediatamente se viu ajoelhada debaixo de uma enorme árvore de Natal.
Era ainda maior e mais rica do que outra que tinha visto no último Natal,
através da porta envidraçada, em casa de um rico comerciante. Milhares de
velinhas ardiam nos ramos verdes, e figuras de todas as cores, como as que
enfeitam as vitrines das lojas, pareciam sorrir para ela. A menina levantou
ambas as mãos para a árvore, mas o fósforo apagou-se, e todas as velas de Natal
começaram a subir, a subir, e ela percebeu então que eram apenas as estrelas a
brilhar no céu. Uma estrela maior do que as outras desceu em direção à terra,
deixando atrás de si um comprido rastro de luz.
«Foi alguém que
morreu», pensou para consigo a menina; porque a avó, a única pessoa que tinha
sido boa para ela, mas que já não era viva, dizia-lhe às vezes: «Quando vires
uma estrela cadente, um meteorito, é uma alma que vai a caminho do céu.»
Esfregou ainda mais
outro fósforo na parede: fez-se uma grande luz, e no meio apareceu a avó, de
pé, com uma expressão muito suave, cheia de felicidade!
— Avó! — gritou a
menina — leva-me contigo! Quando este fósforo se apagar, eu sei que já não
estarás aqui. Vais desaparecer como a lareira, como o ganso assado, e como a
árvore de Natal, tão linda. Riscou imediatamente o punhado de fósforos que
restava daquele maço, porque queria que a avó continuasse junto dela, e os
fósforos espalharam em redor uma luz tão brilhante como se fosse dia. Nunca a
avó lhe parecera tão alta nem tão bonita. Tomou a neta nos braços e, soltando
os pés da terra, no meio daquele resplendor, voaram ambas tão alto, tão alto,
que já não podiam sentir frio, nem fome, nem desgostos, porque tinham chegado
ao reino de Deus.
Mas ali, naquele
canto, junto do portal, quando rompeu a manhã gelada, estava caída uma menina,
com as faces roxas, um sorriso nos lábios… morta de frio, na última noite do
ano. O dia de Ano Novo nasceu, indiferente ao pequenino cadáver, que ainda
tinha no regaço um punhado de fósforos. — Coitadinha, parece que tentou
aquecer-se! — exclamou alguém. Mas nunca ninguém soube quantas coisas lindas a
menina viu à luz dos fósforos, nem o brilho com que entrou, na companhia da
avó, no Ano Novo.
Hans Christian
Andersen
Triste conto.
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