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segunda-feira, 10 de março de 2025

Eu não quero ter responsabilidade

Eu não quero ter filhos. Eu não queria ter um cachorro. Eu não quero me casar e nem mesmo ter uma namorada.
 
Eu não quero chegar em casa e ter que me preocupar com mais coisas, principalmente com uma outra vida que dependa de mim.
 
E tentando analisar a mim mesmo psicanaliticamente, acho que o fato de eu não querer ter mais responsabilidade é porque eu sempre tive muita responsabilidade, desde criança.
 
Meus pais se separaram quando eu tinha uns 12 anos. E quando eles estavam juntos era só trancos e barrancos. Sou o mais novo da família e tenho diferenças de 5 e 7 anos das minhas irmãs. Então, acho que só peguei as desgraças de um casamento. A parte boa deve ter ficado para elas, que devem ter alguma memória boa. Eu não tenho nada bom para dizer de um casamento. Então, não quero esta desgraça para mim.
 
Além disso, parando para pensar, acho que meus pais eram muito crianças, sem muita responsabilidade. Meu pai por exemplo, resolveu que não ia mais trabalhar. E de uma certa forma, sobrecarregou minha mãe. Que por sua vez, devia ficar muito nervosa (com razão) e descontava nos filhos.
 
Depois, quando houve a separação, eu recebi o título de “Homem da casa”. Título um pouco pesado para um menino de 12 anos. E de uma certa forma, muita pressão foi posta em cima de mim.
 
E depois de adulto, vejo as burrices dos meus pais. Minha mãe por exemplo, vivia endividada. Gastava horrores no cartão de crédito e só pagava o mínimo, gerando uma “dívida bola de neve”. Então, dávamos dinheiro para o banco e este dinheiro faltava para a gente.
 
Hoje em dia, vejo muita gente burra que dá dinheiro para o banco para parecer ter as condições que não tem.
 
Que fique claro: nunca passei necessidades, mas o conforto e a tranquilidade não existiam. E foi assim na faculdade também. Como não consegui passar em uma universidade pública, tive que estudar em uma faculdade particular. E não foram poucas as vezes onde havia a possibilidade de eu não continuar o curso por falta de dinheiro. Chegou uma hora que nem eu queria continuar, não era o curso que eu queria mesmo... Mas eu terminei. E agora eu tenho um diploma na gaveta. Pelo menos posso usá-lo caso venha a precisar algum dia.
 
Então, chegar em casa e ter que cuidar do cachorro que está bem feliz e saltitante porque eu voltei, me dá uma certa tristeza e bastante culpa. Com certeza eu sentiria o mesmo ao chegar em casa e ver o meu filho, após um dia cansativo de trabalho.
 
O mundo deu errado. Não existe vida em trabalhar o dia todo com pessoas que você não gosta e chegar em casa para ficar alguns minutos com quem realmente valeria a pena. O dinheiro é um corruptor. Fazem (e eu também) loucuras por ele. O dinheiro, talvez, seja a única coisa que a gente tem.
 
Às vezes, eu acho que ir morar isolado do mundo, na roça, seja a solução. Acho que teríamos menos responsabilidades e menos cobranças.
 
No fundo, eu não quero ter responsabilidade porque eu acho que já tive bastante responsabilidade na vida. Responsabilidades que não eram minhas. Jogaram nas minhas costas. Sempre jogam. As pessoas são irresponsáveis e folgadas. Se acham alguém com boa vontade, elas montam no lombo e ainda batem para andar mais rápido.
 
Eu pelo menos tenho a responsabilidade de não querer mais responsabilidades. Enquanto isto, o mundo está cheio de irresponsáveis que, provavelmente, são mais felizes do que eu.
 
Eu acho que continuo responsável e infeliz, mas não quero mais nenhuma responsabilidade.
 
Eduardo Franciskolwisk

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