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Quando
eu tinha 14 anos fui viajar para Porto Seguro e dias antes da viagem, aconteceu
alguma coisa que minha mãe brigou comigo. Pois ela teve a coragem de
transformar uma coisa que seria boa para mim em uma coisa ruim, em culpa,
dizendo para eu pensar no que eu tinha feito durante a viagem inteira. Ou seja,
com isto na minha cabeça o começo da viagem foi desagradável e durante o
passeio eu tinha lapsos de culpa nos lugares mais improváveis. Eu conseguia
ficar triste nos lugares onde estavam todos felizes, era inevitável. Eu sou
assim até hoje, mas esta foi a primeira vez que eu me lembro disto acontecer. Parece
que as pessoas não querem deixar você ser feliz. Então, esta sensação de
tristeza, de culpa, sempre vem nos meus momentos de alegria até hoje, como se
fosse um choque de realidade dizendo que eu não mereço aquilo ou que aquilo é
passageiro. Não sei se começou ali, mas foi uma das primeiras vezes que eu
percebi sofrimento quando deveria sentir alegria.
Isto
pode estar relacionado à loucura da minha família porque sempre tinha uma coisa
ruim que acontecia em horas que deveriam ser de felicidade. Por exemplo: brigas
em festas, brigas em casa antes de ir para a festa, etc. Chega uma hora que a
sua cabeça fala: "Fica em casa. É mais fácil. Dá menos trabalho e dá mais
alegria.".
Acho
que a minha primeira crise de depressão foi com 16 anos quando nos mudamos para
uma casa longe do centro e eu ficava bastante sozinho, isolado e totalmente
deslocado. Um cachorro já quase adulto, grandão, que não tinha uma pata foi
morar com a gente. Eu sentia tristeza pelo cachorro e por mim, por estar
isolado, sozinho e perdido. O cachorro sem uma pata era para ser meu quando
ainda era perfeito, ou seja, com as 4 patas. Aí, na minha casa não quiseram ele
(não cheguei nem a ver o bicho) e ele foi levado para uma fazenda. Lá ele
sofreu um acidente e perdeu uma pata. Tempos depois, a pessoa que pegou ele não
queria mais e ele acabou vindo para a minha casa. Eu já estava meio depressivo
e vendo o cachorro sem a pata, "aleijado", eu chorava bastante. Eu não
queria aquele cachorro. Eu saía na rua com ele e todo mundo ficava falando "Que
dó, o que aconteceu?". Isto foi me dando a impressão de que as pessoas
achavam que a culpa era minha. E o meu estado piorava quando pensava nisso. Na
época, saber que eu estava ajudando o cachorro não me bastava. Eu tinha a
sensação de que eu estava sendo passado para trás: não me deram o cachorro
quando ele era perfeito, mas agora que ele era um aleijado e ninguém queria
mais, me deram. Eu não quis mais o cachorro. Não sei o porquê, mas logo depois
levaram ele embora. Pode ser porque ele já era enorme e todos tínhamos um pouco
de medo dele. Não confiávamos 100% porque ele não tinha chegado filhote e sido
criado com a gente, tinha chegado adulto. Era um doberman, se não me engano, e
apesar de ter 3 patas, era grande e forte. Apesar de ter só 3 patas, a boca
dele tinha todos os dentes.
Minha
mãe sempre fez isto (e ainda faz): assume uma responsabilidade e depois foge,
obrigando os outros (leia-se eu, o idiota) a fazer o que ela prometeu. O
exemplo mais recente foi quando ela pegou um final de semana para cuidar dos
netos, mas marcou almoço e deixou os netos para os outros cuidarem. Além disso,
ela nem fica com eles, fica fechada no quarto vendo televisão o dia inteiro. Às
vezes, me pergunto se eu seria alguém na vida se meus pais fossem outros, se
fossem pessoas mais normais.
continua...
Eduardo
Franciskolwisk