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quarta-feira, 21 de outubro de 2020

O gosto de uma mentira


 
Um dia destes, liguei na padaria de um supermercado e perguntei:
 
— Vocês têm tortinha de frango pronta?
 
— A nossa acabou, mas se você encomendar eu peço para assar. Aí, você passa aqui e pega. – respondeu a mulher do outro lado da linha.
 
Eram 13:20 horas da tarde. Então, eu quis saber:
 
— Que horas eu posso passar aí?
 
— Pode vir daqui meia hora.
 
Agradeci e desliguei o telefone. Pensei comigo mesmo “Com certeza vai demorar um pouco mais, então, quando for 14:00 h da tarde, eu saio daqui e chego lá às 14:10. Em 50 minutos, com certeza as tortinhas de frango estarão prontas.” E fiz exatamente assim.
 
Quando cheguei lá, antes de dizer alguma, a moça me perguntou:
 
— Você é o moço que veio buscar as tortinhas de frango?
 
— Sou sim, – respondi – elas já estão prontas?
 
— Ainda não, elas estão terminando de assar. Falta só 5 ou 6 minutinhos – afirmo ela.
 
— Tudo bem, não tem problema. Eu espero. – disse na maior inocência – Enquanto isso, vou olhando outros produtos aqui na vitrine da padaria.
 
Todo mundo sabe que 5 ou 6 minutos passam em um piscar de olhos. Pedi que a moça embalasse as saladas de frutas que minha mãe tinha pedido para eu comprar. Da vitrine, escolhi pão de queijo e um outro pão com frango. Sim, adoro comer frango. Então, um homem pesou e me deu os pacotes. Na etiqueta de preço que a balança imprimiu, além do valor estava também o horário: 14:11 h.
 
Depois, fiquei olhando umas caixas de bombons para matar mais alguns minutinhos. Olhei as placas de preços e de avisos, olhei a marca do conversor digital da TV que tinha lá. Olhei tudo até cansar de olhar. Aí, quando já tinha passado mais de 10 minutos, fui para o balcão pegar a encomenda.
 
Perguntei para a moça:
 
— A minha encomenda já está pronta?
 
— Ainda não, mas está terminando de assar.
 
— Mas não estava terminando de assar quando eu cheguei aqui, caralho? – pensei, mas não falei. — Tudo bem. Eu espero.
 
— Você não tem nada para comprar no supermercado?
 
— Não, hoje eu só vim comprar as tortinhas de frango que encomendei. Eu vim aqui ontem à noite e comprei tudo o que eu precisava. Hoje, só as tortinhas mesmo.
 
— Você é ansioso igual a mim. Não sabe esperar. – observou ela.
 
— E por acaso existe um jeito certo de se esperar? Já inventaram um manual com instruções detalhadas ou é só ficar parado aguardando o tempo passar? – pensei, mas não falei.
 
Sinceramente, achei aquela conversa estranha, então, saquei que ela poderia estar mentindo para mim. Mas esperei mais um “pouco”.
 
Depois de 20 minutos esperando, eu já tinha me cansado. E perguntei de novo se a encomenda já estava pronta.
 
A moça disse:
 
— Não, mas já está quase saindo.
 
— Fala a verdade, porra! “Moço, me desculpe, eu esqueci da sua encomenda e coloquei para assar na hora que você chegou aqui. Agora, estou te fazendo de otário para ver quanto tempo você aguenta”. Ou diz “Vai demorar 30 minutos, 1 hora, 1 mês ou uma eternidade.” Mas diga a verdade, saco. – pensei, mas não falei.
 
— Moça, eu acho que não vou levar mais a encomenda porque já faz um “tempinho” que estou aqui e eu tenho horário – mentira minha – e não posso esperar.
 
— Não, espera mais um pouquinho. Vai ali pagar e já vai estar pronta.
 
Nisto eu já estava impaciente. Fiz questão de mostrar decepção e insatisfação no meu rosto.
 
— Tudo bem, vou ali pagar, mas acho que não vou levar as tortinhas de frango porque você é uma mentirosa do cacete! Está me enrolando faz um tempão. Eu tenho cara de otário, sua vagabunda? – pensei, mas não falei.
 
— Tudo bem, lá no caixa eu decido se vou levar ou não.
 
E lá no caixa eu fiquei pensando: levo ou não levo? Pago ou não pago? E decidi pagar e levar aquelas bostas. Paguei e ouvi a moça gritando lá da padaria “Está pronto, moço. Só falta embalar!”.
 
Quando ela me entregou a encomenda, pediu desculpas.
 
— Me desculpa pela demora, a minha chefe até ficou brava comigo.
 
— Você me enganou, sua vadia! Mentiu para mim. Espero que sua chefe coma o seu bumbum e não te ligue no dia seguinte. Quero que você se foda, nunca mais encomendo as coisas aqui. – pensei, mas não falei.
 
— Olha, eu esperei porque você me disse que seriam 5 minutinhos. Não foram 5 minutos, foram bem mais. Se eu soubesse que seria este tempo todo, eu não teria esperado.
 
Peguei a encomenda e fui para casa. Aí, olhei na nota fiscal o horário que eu paguei: 14:37 h. Esperei mais do que 26 minutos. Ou seja, faltava muito tempo para as tortinhas ficarem prontas. Provavelmente, nem tinham começado a assar e resolveram mentir para mim dizendo que “só falta mais uns minutinhos” toda vez que o idiota aqui perguntasse.
 
As tortinhas estavam uma delícia, como sempre, mas o gosto de ter sido feito de otário, este foi amargo e eu não vou esquecer tão fácil. 
 
Eduardo Franciskolwisk 

2 comentários:

  1. HAHAHAHAHAHAAHHAHAAH Adoro essas crônicas bem vida cotidiana e suas merda diárias. Li rindo disso aqui o tempo inteiro. Esse negócio de "pensei mas não falei" é de lei. Certa vez fui numa dessas lojas de departamento e o caixa já foi me oferecendo o cartão da loja, eu já fui dizendo "Não, obrigado, desconfio muito desses cartões". Não é que infeliz me volto com um "O senhor é complexado, isso se chama mania de perseguição". Já pensou? QUE AUDÁCIA!!! "Nem te conheço, seu fdp, arrombado, passa logo as minhas comprar que eu não te perguntei nada, seu imbecil!" pensei mas não falei.

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    1. Olá, Skull

      Fiquei feliz que vc tenha gostado da história. Eu ri bastante lendo o seu comentário e imaginando a cena. Todas vezes que eu leio ele, acho engraçado. Eu gostaria de ver estas história no seu blog tb.

      E desculpe pela demora em comentar o seu comentário.

      "O senhor é complexado, isto se chama mania de perseguição" hauhauhauhauha

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