Não importa a idade que tenham, as pessoas sempre têm algo em suas vidas que ainda não entenderam.
Só para destacar: minha avó se chama Anna. Anna com dois Ns (Viu? Não vão errar depois!). Mas ela atende também por Dona Anna e pela sua variante: Don’Anna.
Era finalzinho de maio, dia do meu aniversário. Como sempre acontecia, fui a casa de minha avó buscá-la. Eu fui a pé, mas voltei de Ferrari. Isso mesmo, a minha avó tem uma Ferrari! E, como sempre acontecia, fui eu quem dirigiu o carrão.
Em inverso à alta velocidade, na primeira esquina, já viramos na contramão. Três quarteirões depois, havíamos chegado no destino. Primeiraminto, pusemos o carro na garagem. Segundamente, o colocamos dentro de casa; para ser mais exato, na sala de televisão.
Estávamos sozinhos, ela sentada na Ferrari e eu sentado no sofá. De repente, ela me perguntou:
– Sabe o que o frio dessa noite me fez?
– Não, vó – respondi. – O que o frio dessa noite te fez?
– Fez com que eu entendesse uma coisa!
Nesse momento, ela se ajeitou, sentando-se um pouco mais confortavelmente e começou a contar uma história:
– Quando eu tinha uns 6 ou 7 anos, meu pai, em todas as noites frias, pedia-me um favor. Então, todos os dias, após o jantar, eu pegava dois tijolos e os embrulhava em uma flanela. Naquela época, ainda usávamos o fogão à lenha. Por isso, quando a comida estava pronta, tirávamos a lenha que ainda poderia ser utilizada. E assim, no fogão só restavam as brasas. Eu pegava os dois tijolos embrulhados na flanela e os colocava na frente do forno. Depois de algum tempinho, eu ia lá de novo e virava os tijolos. Desta forma, os dois lados dos tijolos ficavam aquecidos. Na hora de dormir, eu punha os tijolos no pé da cama do meu pai, conforme ele havia pedido. Porém, nunca entendi o motivo pelo qual eu fazia aquilo.
Ela, novamente, ajeitou-se na cadeira, sentando-se em outra posição e continuou:
– Só que nesta noite, nesta noite sim, eu entendi porque todas as noites meu pai me pedia aquele favor. Sabe? Nesta madrugada, eu acordei e senti um enorme frio nos pés! Nossa, meus pés estavam congelados! Imediatamente, veio-me na cabeça os tijolos embrulhados na flanela e aquecidos diante do fogão à lenha. Então, entendi tudo. Meu pai não conseguia dormir com os pés gelados. Só a coberta não era suficiente, por isso, em todas as noites frias, lá estavam os tijolos aquecidos em seus pés. Ele colocava os pés perto dos tijolos para esquentá-los e só assim conseguia dormir.
A história da Dona Anna acaba aqui. Mas ela vai muito mais além dentro da minha cabeça. Minha avó tem 80 anos e só agora foi entender o que lhe acontecia quando tinha 6 ou 7 anos de idade. Contando-me isso, minha avó me fez entender que:
A sua idade não importa. Algumas coisas você entende facilmente. Outras, você demorará muitos anos para entender. E outras, você nunca entenderá.
Eduardo Franciskolwisk
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