Na última sexta-feira, fui ao supermercado. Deixei o carro no estacionamento e segui em direção à loja. No meio do caminho, um menino me parou e disse:
— Lá em casa, nós estamos precisando de dinheiro. Então, estou vendendo estas pipocas aqui. Você quer comprar? – perguntou mostrando um saquinho daquelas pipocas doces que vêm em embalagem cor-de-rosa.
— Não, hoje não. Obrigado. – falei com a mesma indiferença e sorriso amarelo de sempre.
Entrei no supermercado e fui fazer compras. Porém, o menino que estava pedindo ajuda lá fora ficou martelando em minha cabeça. Eu não consegui parar de pensar que ele me pediu ajuda e que eu não ajudei. Sim, peso na consciência. Às vezes, este bicho quase extinto aparece em algumas cabeças.
Pensei comigo: “Se o moleque ainda estiver lá fora, eu compro a pipoca dele. Tomara que esteja!”
Terminei as compras bem rápido, paguei e fui em direção ao carro. Torcia muito para encontrá-lo.
Ao pisar no estacionamento, avistei-o bem em frente ao carro em que eu estava. Guardei as compras no carro, fui até ele e perguntei:
— Quanto custa a pipoca?
— Custa 1 real – respondeu. — É que nós, lá em casa, estamos precisando muito mesmo – explicou-se sobre o preço “alto” da pipoca que pode ser comprada por 20 centavos.
Peguei uma nota de 2 reais e dei para ele.
— Você vai querer quantas? – perguntou-me.
Por um momento, pensei em dizer “Me dá um saquinho só e pode ficar com o resto do dinheiro”, mas achei que se fizesse isso não estaria contribuindo com o empreendedorismo dele. Pelo contrário, achei que o acostumaria a só ganhar as coisas. Pensei muitas outras coisas naqueles 10 segundos de conversa com ele. Caramba, como podemos ter tantos pensamentos em tão curto tempo?
— Eu vou querer 2 saquinhos.
Peguei as pipocas, agradeci e fui embora. Meus pensamentos continuaram pipocando dentro da minha cabeça.
Achei que fiz uma boa ação, sobretudo achei que fiz a minha obrigação.
É nossa obrigação ajudar quem tem menos condições do que nós porque existirá um momento em que só quem tem mais condições do que nós poderá nos ajudar.
Pensei nisto porque estou desempregado e um emprego não é algo que eu possa dar para mim mesmo. Eu preciso de outra pessoa para isto acontecer. Assim, como outras pessoas precisam de mim para outras coisas acontecerem.
Digamos que um milionário gasta muito dinheiro comprando em uma determinada loja. Esta loja vai poder me dar um emprego. Com um emprego, vou continuar podendo ajudar outros meninos da pipoca. Sendo ajudado, o menino da pipoca verá que ele pode conseguir de forma honesta.
Se ninguém comprasse suas pipocas, um dia, ele se perguntaria por que o milionário tem tanto e ele não tem nada? Poderia se revoltar com isso e ir para o mau caminho. Podendo roubar, seqüestrar ou matar o rico.
Antes, eu não me encaixava em nenhum ciclo. Agora, vejo que muita coisa depende de mim também.
Algumas coisas no mundo, só nós podemos mudar. Outras coisas, só o mundo pode mudar para a gente.
Eduardo Franciskolwisk